Ex-entregador de marmitex e ex-engraxate se sucedem na chefia do Executivo de Mato Grosso do Sul
Ao assumir em caráter provisório a chefia do Executivo de Mato Grosso do Sul, o vice-governador José Carlos Barbosinha (PP) colou mais um matiz na aquarela de pluralidade que reveste o trio central dos principais dirigentes políticos do Estado. O titular do cargo, Eduardo Riedel, 59, que está em férias, é um carioca de família de proprietários rurais de destaque no agronegócio e forte vínculo social e econômico em território sul-mato-grossense.
Em 27 de dezembro, Riedel e Barbosinha saíram para curtos dias de descanso. A vaga temporária do cargo de governador foi preenchida pelo agente publico imediato na escala sucessória, constitucionalmente pré-estabelecida e destinada ao presidente da Assembleia Legislativa, Gerson Claro (PP). De uma família de pequenos produtores glebeiros de Itaporã, com origem humilde e lides trabalhistas que incluíram na sua adolescência, em Sidrolândia, a entrega de marmitex, Gerson despachou da sala principal da Governadoria até terça-feira, 02. Neste dia, entregou o cargo a Barbosinha.
Do filho de uma bem-sucedida família no ramo do agronegócio, as chaves do maior cargo político do Estado foram para as mãos de um ex-entregador de “quentinhas” e daí a um ex-engraxate, ex-sorveteiro e ex-vendedor de salgadinhos. Quando Riedel voltar e reassumir, em 14 de janeiro, Mato Grosso do Sul terá dado ao País uma demonstração da grandeza e da legitimidade da democracia no estabelecimento do poder acessado com diversidade.
O COMEÇO
Embora seja conhecido em todo Estado por Barbosinha, o governador em exercício ingressou na vida publica com outro e igualmente carinhoso apelido vinculado ao nome de batismo: Zé Carlinhos. Tudo começou quando em 1975, aos 11 anos de idade, mudou-se com a família de sua cidade natal – São Simão, em Goiás – para a recém criada Angélica, na Grande Dourados.
Cresceu trabalhando desde criança: foi sorveteiro, engraxate e vendeu sorvetes, até ingressar, com apenas 14 anos, no serviço publico, contratado pela prefeitura. Nesta época, final dos anos 1970, entrando nos 16 anos de idade e já atraído pela política, o adolescente escreveu na calçada do prédio esta frase: “Zé Carlinhos 88”. Era uma previsão ousada e intrigante, mas consciente, porque as coisas aconteceram. Em 1988, aos 24 anos, após estudar, trabalhar de bancário e formar-se em Direito na cidade de Dourados, aceitou o desafio de algumas lideranças de Angélica e entrou na disputa pela prefeitura.
Zé Carlinhos enfrentou as forças tradicionais que se revezavam no poder e foi à luta. Saiu de uma cotação de 2% de intenções de voto e surpreendeu. Com 2.183 votos e apenas 171 de diferença sobre o segundo colocado, venceu a eleição e tornou-se prefeito com 25 anos, um dos mais jovens do País na época. A trajetória foi coroada nos anos seguintes, quando presidiu a Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul (Sanesul), chefiou a Secretaria de Justiça e Segurança Publica no governo de Reinaldo Azambuja, conquistou duas vezes o mandato de deputado estadual e, enfim, compôs como vice na chapa vitoriosa de Riedel.
SOMAR ESFORÇOS
Chamado ainda de Zé Carlinhos pelos angeliquenses, Barbosinha recebeu com humildade a incumbência, em cerimônia simples, na qual o amigo e correligionário Gerson Claro transmitiu votos de sucesso e se pôs à disposição, com a Assembleia, para somar esforços em defesa dos interesses de Mato Grosso do Sul. Descreveu um clima de harmonia e confiança no Estado e citou momentos importantes, como a aprovação da Lei do Pantanal e os diversos indicadores que apontam o crescimento econômico e social.
Gerson Claro agradeceu a confiança e a colaboração recebida nos dias de interinidade e assegurou que continuará com semelhante ênfase na presidência da Alems. “Cumprimos a missão constitucional num ambiente em que o Estado vive, talvez, um dos melhores momentos da sua história. E sigo no compromisso de ajudar a manter Mato Grosso do Sul neste ritmo”, afiançou.
Participaram da solenidade de transmissão da função o secretário de Educação, Hélio Daher, o secretário-adjunto de Justiça e Segurança Pública, Ary Carlos Barbosa, o secretário-adjunto da Secretaria de Governo e Gestão Estratégica, Frederico Felini, e a procuradora-geral do Estado, Ana Ali Garcia, entre outros convidados e autoridades.