De falhas na segurança pública à farra empreguista, passando pelo abandono dos bairros e o caos na saúde, gestão naufragou
Quando assumiu a prefeitura, em abril de 2022, Adriane Lopes (PL) recebeu de Marquinhos Trad uma herança de problemas não-resolvidos e promessas não cumpridas, comparadas a uma enorme pilha de retrocessos ao desenvolvimento humano, social e econômico de Campo Grande. Hoje, com a caneta faz-tudo, nas mãos da prefeita aquela enorme pilha herdada de seu parceiro Marquinhos transformou-se numa gigantesca montanha de desgovernos em cada área sob responsabilidade da prefeitura.
A incapacidade gerencial é tão sem limites que vem afetando os serviços mais elementares, tanto no centro como nos bairros. Na região central, uma das consequências da ausência de gestão é sentida pelos comerciantes, inseguros porque a prefeitura não faz a poda regular das árvores. Muitas crescem e atingem as marquises e o topo das residências, facilitando a escalada de ladrões.
Thiago Grego, um cidadão que vem denunciando e registrando a situação caótica dos serviços públicos municipais, visitou estabelecimentos comerciais e imóveis, conversando com proprietários e inquilinos que sofrem com o problema. A maioria revela que os assaltos são comuns e os moradores vivem apreensivos, sobretudo após o expediente, quando chega a noite. Várias reclamações já foram feitas, porém a assistência do poder público não é prestada com a frequência e a agilidade necessárias.
“A omissão da prefeitura facilita a ação dos criminosos. Árvore com galhos na marquise, perto da janela, do ar condicionado. Pela terceira vez a dona desta loja teve que comprar um aparelho de ar condicionado”, relata Grego em um vídeo nas redes sociais. “São várias árvores sem a poda. E isto sem falar nas que estão sendo degoladas, cortadas de qualquer jeito”, completa.
BARBEIRAGENS
O desleixo não está apenas neste criminoso desserviço à natureza e à segurança das pessoas. A gestão de Adriane vem colecionando barbeiragens, desmandos e ações suspeitas de todo tipo, com a conivência da Câmara Municipal, já que a maioria dos vereadores tornou- se sua refém. Quando foi denunciada pela imprensa a existência da “folha secreta”, um projeto chegou à Câmara para por fim à questão e legalizar o que deveria ser legalizado. O caso vem sendo “empurrado com a barriga”.
A orgia salarial tem dois polos: num, são os super-salários e benesses aos apadrinhados, entre eles cabos eleitorais e aparentados; noutro polo, a grande maioria dos servidores, aqueles que realmente trabalham, mas são desvalorizados e tratados como se a prefeita estivesse fazendo um favor. Adriane Lopes se recusou a pagar adicionais previstos em lei para algumas categorias, foi condenada pela Justiça a fazer o repasse, porém entrou com ação contestatória para continuar dando o calote. Em consequência, sofreu um pedido judicial de intervenção.
DRENAGEM INTERNA
Enquanto os bairros padecem na poeira ou na lama durante o tempo seco ou sob chuva, o sistema de drenagem que falta do lado de fora da prefeitura vem funcionando, muito bem, lá dentro. Além da folha secreta, dos super-salários e dos desperdícios afins, outros drenos sugam os judiados cofres públicos. Na sexta-feira passada, 21, o Diário Oficial (Diogrande) publicou uma autorização assinada por Adriane Lopes para o Município desembolsar R$ 7,2 milhões como pagamento de uma indenização à MS Brasil Comércio e Serviços.
Nada haveria de estranhar se esta empresa não fosse o pivô de uma operação de combate à corrupção, chamada “Cascalhos de Areia”, que o Ministério Público Estadual deflagrou para desmontar um suposto esquema de corrupção na Prefeitura. E este mesmo Diogrande informa ainda que o dono oficial da empresa, Edcarlos Jesus Silva, faturou outro contrato com a gestão de Adriane, no valor de R$ 1,9 milhão/ano, para alugar máquinas e caminhões à prefeitura.
Outras drenagens vêm despejando dinheiro do contribuinte nos ralos abertos pela gestão adrianista. A prefeita e sua equipe financeira até agora não deram uma resposta plausível ao questionamento da vereadora Luiza Ribeiro (PT), que pediu informações sobre três decretos de suplementação orçamentária assinados por Adriane Lopes. O caso está intrigando o povo e as autoridades, incluídos o Tribunal de Contas e o Ministério Público.
As suplementações decretadas engordaram o orçamento municipal em mais de R$ 150 milhões. A justificativa da prefeita é que este dinheiro foi necessário para pagar gastos do Fundo Municipal de Saúde, que estava em atraso no repasse aos servidores. Só que em 2023. Com a justificativa ambígua, a emenda de Adriane e sua equipe ficou muito pior que o soneto.
(fotos 1 e 2) A prefeita Adriane Lopes: desleixo até na poda de árvores [no destaque] Fotos André de Abreu e Instagram Thiago Grego