Sempre Em Frente (C’mon C’mon) é um grande abraço de urso envolto em celulóide. Mike Mills, o cineasta por trás de Mulheres do Século 20, é um mestre da emoção íntima e não forçada e do tipo de sabedoria simples que sempre soa melhor quando vem da mente das crianças: elas criam o tipo de ouro que os roteiristas passariam muitas noites sem dormir tentando perseguir.
As crianças em questão estão sendo entrevistadas por Johnny (Joaquin Phoenix), um jornalista de rádio que é muito bom em fazer perguntas, mas não tão bom em respondê-las. Ele e sua irmã Viv (Gaby Hoffmann) se separaram nos meses desde a morte de sua mãe, mas agora ele se vê pai temporário de seu sobrinho, Jesse (Woody Norman), depois que ela é chamada para ajudar seu ex-marido, Paul (Scoot McNairy) a procurar ajuda psiquiátrica. Jesse é um menino curioso, com um elmo de cabelo ondulado e olhos escuros aguçados.
Quando ele faz a Johnny o tipo de perguntas que parecem fáceis para os jovens, do tipo “Por que você não se casou?” ou, à menção de uma ex-namorada, “Por que você terminou?”, as respostas voltam todas embaralhadas. Não que a vida fique mais difícil, como Mills sempre parece argumentar, mas é que cada ano traz consigo um pouco menos de clareza. Em Mulheres do Século 20, Dorothea de Annette Bening lamenta ao filho que “eu te conheço menos a cada dia” e esse mesmo medo assombra tanto Viv quanto Johnny. A irmã não sabe dizer ao irmão que a mãe nunca foi tão atenciosa com ela. A mãe não sabe como dizer ao filho que seu pai está com problemas desesperados. O tio não sabe dizer ao sobrinho que sente muito por não estar tanto por perto.
Às vezes a arte auxilia. Ao longo de Sempre Em Frente, Mills faz seus personagens lerem passagens dos livros e ensaios que os ajudam a processar como se sentem – seja The Bipolar Bear Family de Angela Holloway, escrito para ajudar as crianças a entender o transtorno, ou Mothers: An Essay on Love and Cruelty de Jacqueline Rose. De vez em quando, eles abandonam completamente as palavras e se comunicam simplesmente tamborilando os dedos na mesa com Jesse.
É muito fácil, à luz da vitória de Phoenix no Oscar por Coringa, pensar no ator como alguém capaz de negociar apenas miséria e loucura. Mas você não pode construir um bom vilão sem vir de um lugar de profunda humanidade – e Phoenix está sempre no seu melhor em um papel como este. Ele é brincalhão e vulnerável, sem uma pitada de vaidade. Eu gosto quando suas frases são longas e respiram fundo. Ele soa um pouco como o Ursinho Pooh. O diretor de fotografia Robbie Ryan captura Phoenix e Norman em um rico preto e branco que às vezes evoca a fotografia de rua de Lee Friedlander – familiar e um pouco mágica. Os dois podem se sentar em uma mesa e ser cercados pelas luzes de um balcão de delicatessen (loja de petiscos) próximo. Assistindo Sempre Em Frente, você vai querer desesperadamente se juntar a eles.
Sempre Em Frente não vai a lugar nenhum em particular. É uma experiência sinuosa, mas propositalmente. E é o tipo de filme que te dará vontade de sair do cinema e fazer as perguntas grandes, bregas e sinceras a estranhos, família ou qualquer pessoa.
5 pipocas!
Disponível na Amazon Prime Video.