Se eu te descrever O Gambito da Rainha (The Queen’s Gambit) como: série da Netflix sobre vício, obsessão, trauma e xadrez, o primeiro julgamento que virá à sua mente provavelmente será “não é emocionante”. Mas essa adaptação de Scott Frank do romance de mesmo nome, de Walter Tevis, sem sombra de dúvida, exige absolutamente o uso da definição “emocionante”. Ancorada por um roteiro principal magnético, atuação de classe mundial e linguagem visual impecável, essa é uma das melhores séries do ano.
E é também, em sua essência, uma peça de esportes inusitada, pois, convenhamos, quando foi a última vez que você se empolgou com xadrez?
Conhecemos Elisabeth Harmon ainda criança, com 8 anos (Isla Johnson), numa situação em que, inacreditavelmente, saiu ilesa fisicamente de um acidente de carro que matou sua mãe. Como não sabiam quem era o pai, ela foi enviada para uma escola cristã de órfãos. E lá, ela descobriu 3 coisas: uma amizade com Jolene (Moses Ingram), a dependência química por tranquilizantes e uma paixão pelo xadrez – incentivada pelo zelador da escola, Sr. Shaibel (Bill Camp) que a ensinou tudo no porão.
Quando ela finalmente deixa a escola, ao ser adotada por Alma Wheatley (Marielle Heller), leva junto, na mala, essas duas últimas descobertas, além de um monte de livros de xadrez, um ego implacável, um trauma inexplorado e uma quantidade considerável de auto-punição. Mas é o jogo que a impulsiona para o mundo, tornando-a uma lenda do xadrez, e também, cada vez mais, uma dependente de pílulas e álcool.
Agora com 15 anos, interpretada por Anya Taylor-Joy, Beth tem muito com que lidar. A personalidade dela a partir daí vai se tornando cada vez mais fascinante. Ganha glamour inebriante, vaidade, mas também vulnerabilidade quando não ganha. Grande parte da história depende de como Beth está – às vezes ela fica mais sozinha, e às vezes cercada por muitas pessoas.
Mas o foco é quase todo no xadrez. Meu Deus, o xadrez! Por ser uma óbvia boa história de esporte, as sequências de xadrez são todas elétricas e cada uma à sua maneira. Ou vai te fazer prender a respiração por não entender xadrez, ou provavelmente te levará às lágrimas por entender muito bem o jogo.
Eu sei muito pouco sobre xadrez, mas de alguma forma O Gambito da Rainha me convenceu que posso aprender e me deslumbrou de uma vez.
5 pipocas!
Em cartaz na Netflix.