Ministros e assessores em polvorosa com a instabilidade gerencial e a retirada de cena de importantes nomes da equipe. A base governista no Congresso Nacional anda tonta, desarticulada e dividida.
A pressão da conjuntura é asfixiante e implacável. Já não é mais a longa espera pelos melhores resultados da economia. A pandemia do Coronavírus. Os estragos locais e a indignação internacional pela desastrosa gestão do meio ambiente. A saída de Sérgio Moro. Os conflitos entre STF-AGU, procuradores e ministros. A fome insaciável de um Centrão emagrecido. Os subterrâneos em revelação da rachadinha, tendo filhos e esposa do capitão enrolados até o pescoço com um presidiário.
Em resumo: o governo de Jair Bolsonaro está atolado num mar de crises, que vão da econômica à política, passando pela gerencial. Na terça-feira passada tornaram-se demissionários o secretário especial de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, e o secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel. Deixaram manquitola o ministro da Economia, Paulo Guedes, que fala em debandada.
Há quem considere que tudo começou com as saídas de duas peças que seriam chaves no governo, os ministros Sérgio Moro, de Justiça e Segurança Pública, e Luiz Henrique Mandetta, da Saúde. Será?
Parece que, na verdade, o ciclo bolsonarista no poder, em que pese a formidável massa de apoiadores que o seguem tresloucadamente, já se instalou sem pilares sólidos de sustentação. Maioria congressual não é tudo e pode até ser nada. Idem a escolha de bons auxiliares. Tudo isso é fundamental, desde que se evite outros pecados, como os de brigar brigando com a imprensa, em vez de um debate civilizado sobre eventuais falhas na tarefa da comunicação.
Ao longo desses quase 20 meses o presidente que subiu ao altar prometendo não lotear o governo, não negociar suas convicções e não proteger qualquer apoiador, vem aos poucos desdizendo e negando muito do que prometeu. Aliás, fazendo pior, porque ao atrair e instalar os parlamentares do Centrão em sua base de sustentação entronizou no coração palaciano a “velha política”, da qual se ufanava de ser o principal inimigo.
A Amazônia e o Pantanal estão tendo grandes extensões de suas áreas devoradas pelo fogo e o presidente afirma que isso não é verdade. O coronavírus já matou mais de 103,1 mil pessoas e infectou 3,1 milhão de brasileiros, mas o presidente, agora usando máscara na base do tira-e-põe, continua insistindo que ficar em casa nada resolve, que o isolamento social é besteira e que a volta ao trabalho vai garantir o giro da economia e os empregos.
Na quarta-feira, aos 80, a vó de Michele Bolsonaro tornou-se mais uma vítima da Covid-19. Dor e impotência no lar da primeira-dama, que já vinha passando bocados maus com a revelação dos sucessivos depósitos feitos em sua conta bancária pelo ex-assessor dos Bolsonaro, o ex-policial Fabrício Queiroz e sua esposa, ambos agora em regime de prisão domiciliar.
Resta ao presidente uma solução honrosa. Recomeçar, se possível. Fincar uma estaca, de número zero. Redefinir composição e diretrizes de governo. Ajustar a fala e a prática de acordo com as imposições nacionais e de olho na conjuntura internacional. E ainda há tempo para salvar o governo e a si mesmo. Se quiser. Basta querer. Mas aí está a dúvida. Aí reside o dilema.
O capitão-presidente vem demonstrando que sua teimosia e seu orgulho, mesmo desgastados, são mais fortes. Deve mesmo adorar os gritos histéricos, cartazes e afagos de apoio da claque fiel que o aguarda e o acompanha todos os dias aonde quer que vá. O Brasil…ora, o Brasil. Os brasileiros…ora, os brasileiros…