Encarregado de pensar e articular as ações políticas de Reinaldo Azambuja, o secretário especial do Governo e presidente regional do PSDB, Sérgio de Paula, está muito bem consciente do papel desafiador que tem a cumprir. Um papel que agora é bem mais complexo por causa da crise econômica agravada pela pandemia da Covid-19 e os impactos conjunturais e específicos que se refletirão na próxima disputa eleitoral.
Para ele, desafios desse tamanho não são bicho-de-sete-cabeças. Habituou-se a enfrenta-los desde cedo, nas lutas pela sobrevivência, e aprimorou o aprendizado a partir do momento em que passou a acompanhar Reinaldo Azambuja, desde a eleição para a Prefeitura de Maracaju. Hoje, é uma das peças-chave da base de inteligência do governador e assina importantes conquistas para o partido de ambos – o PSDB tem o maior número de prefeitos e de bases representativas no Estado.
Nesta entrevista exclusiva à Folha de Campo Grande, Sérgio de Paula aborda demandas político-eleitorais dos tucanos, como o compromisso de Azambuja com o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD). Ressalta a intrincada exigência que o governo responde para, ao mesmo tempo, combater a pandemia e manter a economia respirando. E destaca o surpreendente desempenho da gestão Azambuja, que mesmo no redemoinho da crise e enfrentando com sucesso o coronavírus, ainda toca um programa que investirá até 2022, em todos os municípios, R$ 4,5 bilhões.
FOLHA DE CAMPO GRANDE – Se considerar o avanço da pandemia da Covid-19, com baixas taxas de isolamento social, adiar as eleições afeta de alguma forma o PSDB em Mato Grosso do Sul?
SÉRGIO DE PAULA – Veja bem, o Congresso acaba de aprovar nova data para as eleições, em novembro deste ano. Qualquer elemento novo nesse tabuleiro político será alvo de nova avaliação. Por enquanto, estamos trabalhando com o que está exposto pela Lei Eleitoral. O que está fora disso não nos interessa neste momento. Sabemos que a situação é crítica com relação à Pandemia e todos estamos trabalhando para diminuir o sofrimento do nosso povo, mas não creio em nova alteração na legislação. Portanto, vamos continuar trabalhando com esse cenário.
FCG – O PSDB já tem a maioria dos prefeitos, mas ainda não conquistou algumas cidades emblemáticas, como Dourados,
Maracaju, Naviraí e Nova Andradina. Esse tabu será quebrado em 2020?
SP – Estamos trabalhando para isso. Porém, neste mesmo caminho não podemos esquecer das alianças partidárias. E como todos sabem, o PSDB, além das conquistas eleitorais, vem conquistando aliados de primeira hora. E isso está sendo levado em conta neste momento. Muitas vezes, embora muita gente não saiba, um prefeito de partido aliado é e sempre será um soldado que está marchando junto com o nosso partido. E assim por diante. Em síntese, pretensão política é o que não falta em nossas fileiras, mas cada município tem seu próprio histórico político e isso não pode ser ignorado no momento das articulações que precedem a disputa eleitoral. No momento certo, na hora certa, vamos anunciar nossas chapas, com ou sem alianças em vários municípios. É um desafio enorme.
FCG – De acordo com uma resolução nacional, o PSDB deve ter chapa própria nas capitais. Como ficam o desejo do governador Reinaldo Azambuja de apoiar Marcos Trad e a ambição partidária de ter seu próprio candidato?
SP – Este assunto já foi tema de amplas reportagens, tanto em nível estadual, quanto nacional. Todos sabem, e isso é um discurso do próprio governador Reinaldo Azambuja, que temos um acordo de cavalheiros fechado com o prefeito Marcos Trad, do PSD. Estamos prontos para cumprir. Agora, é preciso avaliar nossos espaços e metas para 2022. Eu costumo reforçar que as eleições municipais sempre foram o principal palanque para determinar uma candidatura forte para o Governo do Estado. Quero dizer que nossa relação institucional é a melhor possível com o Marcos Trad. Os exemplos estão aí: obras conjuntas nos quatro cantos de Campo Grande, seja na revitalização do Guanandizão, na pavimentação asfáltica de vários bairros e região central, na construção de unidades habitacionais, entre outras ações. Portanto, penso que tudo isso tem e terá um peso muito grande no momento em que sentarmos à mesa para tratarmos do apoio do PSDB à sua reeleição. Mas está muito claro para nós, tucanos, que vamos seguir o nosso líder maior, o governador Reinaldo Azambuja. Ele já reiterou centenas de vezes que não vai falhar com sua palavra: vai apoiar o prefeito de Campo Grande. Agora, queremos um papel de protagonismo neste cenário, até porque o PSDB é um partido forte, com nomes fortes, com nítidas condições de disputar a prefeitura da Capital. E isso remete a um reconhecimento mínimo para marcharmos junto com o PSD do Marcos Trad.
FCG – Nos últimos meses, sobretudo agora na pandemia, a figura do secretário Eduardo Riedel ganhou maior projeção. Ele é um trunfo do governo e do PSDB para disputas eleitorais?
SP – Assim como outros secretários e companheiros do partido, como os deputados federais Beto Pereira e Rose Modesto é o secretário de Governo, Eduardo Riedel. Todos já sabem da trajetória vitoriosa do Beto e da Rose, mas devemos reconhecer também o papel fundamental que o Riedel vem desempenhando no enfrentamento da pandemia e nas ações administrativas. O seu perfil conciliador e de executivo desperta a atenção do partido e, com toda a certeza, poderá se transformar num excelente nome para futuras disputas eleitorais. O que ocorre é que, diferentemente de outras agremiações que passaram pelo poder em Mato Grosso do Sul, o PSDB não vai deixar em segundo plano a articulação para chegar em 2022 com reais chances de conquistar mais um mandato. O Riedel, o Beto e a Rose, com toda a certeza, estarão prontos para disputar a indicação do PSDB na sucessão do governador Reinaldo Azambuja.
FCG – O senhor receia que as eleições possam afetar a relação com aliados que estão na base do governo, mas terão seus próprios candidatos, como em Dourados e Maracaju?
SP – Muito pelo contrário. Para lembrar, o deputado Barbosinha [DEM] participou do nosso Governo com uma atuação exemplar na Secretaria de Justiça e Segurança Pública. Depois, seguiu para a Assembleia Legislativa e, mais uma vez, cumpriu papel fundamental na liderança do Governo. Portanto, na hipótese de o PSDB decidir por apoiá-lo, não teremos nenhum constrangimento ou dificuldades para subirmos juntos no mesmo palanque. O mesmo ocorre com o nosso amigo e deputado estadual Renato Câmara. Embora esteja filiado ao MDB, não teríamos problema nenhum em referendá-lo na disputa pela prefeitura de Dourados. Em Maracaju, cidade do nosso governador Reinaldo Azambuja, o projeto é retomar o poder municipal e implementar uma administração voltada para o desenvolvimento e bem-estar da população. Acredito que o nosso candidato reúne todas as condições para cumprir papel fundamental na prefeitura. E vou além: terá todo o respaldo do nosso Governo. Portanto, não trabalhamos com hipóteses. Nesse contexto sabemos muito o ofício da articulação e do compromisso político que estamos fechando neste momento.
FCG – Como a direção regional vai tratar eventuais alianças do PSDB com forças adversárias nas eleições municipais?
SP – Como já afirmamos em duas perguntas anteriores, o PSDB não tem problemas de relacionamento com outras siglas. Basta ver a nossa bancada de sustentação na Assembleia Legislativa. Temos deputados de vários partidos e temos uma relação institucional e política respeitosa. Deveremos levar esta mesma parceria para as eleições municipais. Qual o problema em reforçarmos chapas majoritárias com aliados? Nenhum. O PSDB é um partido forte, maduro e responsável, e isso pesa no momento das articulações. Quero dizer que neste momento estamos prontos para disputar várias prefeituras. Mas é lógico que em alguns municípios teremos alianças, como esperamos em Campo Grande. Porém, quero deixar registrada uma frase muito popular no meio político: democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um.
FCG – O governo editou mais de 120 medidas preventivas, mas a pandemia está avançando, com baixos índices de isolamento social. Não seria o caso de atitudes mais enérgicas em relação aos refratários que continuam criando ambientes favoráveis à propagação da doença?
SP – O Programa de Saúde e Segurança da Economia (Prosseguir) faz uma avaliação de risco por macrorregião e por município, com o objetivo de manter as atividades socioeconômicas sem riscos à saúde e até a possibilidade de lockdown, como já acontece em Rio Brilhante e Rochedo. Toda atitude radical deve ser repensada e muito analisada. É por isso que o nosso Estado está melhor do que todas as demais unidades da federação. É fruto de um Governo responsável, que não vai sair por aí tomando medidas que possam causar prejuízos ao setor produtivo e à população economicamente ativa. Sabemos da situação crítica. Contudo, é neste momento que precisamos avaliar melhor as nossas ações. Estamos diuturnamente trabalhando para amenizar esta pandemia. O Estado e os municípios estão fazendo a parte que lhes cabe, entretanto grande parcela da população está abandonando esta responsabilidade. Todos devemos trabalhar juntos.
FCG – De uma forma geral, o que o governo estadual fez e o que não fez para enfrentar toda esta crise?
SP – Como diz nosso governador Reinaldo Azambuja em suas entrevistas, e eu acho muito bom repetir aqui: todo mundo está sofrendo prejuízos. A dona de casa, o trabalhador, o empregador, o empresário e os governos. Aqui, em Mato Grosso do Sul, optamos por não deixar as atividades econômicas paralisadas, mas foram instituídos protocolos de biossegurança. Para o nosso governo, a maior prioridade é salvar vidas. A economia, se Deus quiser, vai se recuperando gradativamente; vidas não. O governo adotou uma série de medidas para reduzir impactos econômicos, principalmente das pessoas menos favorecidas, mesmo com o foco na preservação da vida. Estamos entregando alimentos para 60 mil famílias carentes. Mais além, nos 68 municípios nos quais a Sanesul opera, consumidores de baixa renda tiveram as contas de água zeradas nos meses de abril, maio e junho. Corte de água e gás foi proibido, independentemente da renda dos moradores. Abrimos mão do ICMS da conta de luz de mais de 142 mil famílias de baixa renda. E aumentamos em 33% o benefício do Vale Renda para 39 mil famílias que têm crianças matriculadas em escolas da Rede Estadual de Ensino. Para quem mora em casas e apartamentos da Agehab [Agência de Habitação Popular de Mato Grosso do Sul], as prestações dos contratos não estão sendo cobradas durante os meses de março, abril, maio e junho. Elas vão ser acrescidas só no final do contrato. E recentemente adquirimos máscaras para distribuição gratuita para alguns segmentos da população. Então, ao mesmo tempo em que estamos tomando as medidas de segurança na área de saúde, exigindo protocolos de biossegurança sem paralisar as atividades, ampliando leitos para atender a população e colocando as barreiras sanitárias, estamos também buscando minimizar os impactos da pandemia para os trabalhadores e trabalhadoras.
FCG – Qual sua avaliação sobre o desempenho do governo Bolsonaro?
SP – Esta é uma boa pergunta para o povo sul-mato-grossense responder. Eu tenho minha opinião em relação à administração do presidente Bolsonaro, mas será que vale apena sair por aí distribuindo receitas de trabalho e de política? O presidente está lá porque a maioria absoluta votou nele. Eu quero deixar claro que sou contra algum golpe que venha ferir a nossa democracia, mas já deu para ver que muitos estão na torcida para que 2022 chegue logo. Há duas correntes brigando nas redes sociais, contra e a favor de Jair Bolsonaro, e não vamos entrar nesta guerra. Eu prefiro dizer que o meu partido é o Brasil e estou torcendo muito para que dê tudo certo, que o Brasil volte a crescer e oferecer empregos e renda à nossa população. Independentemente de quem esteja no comando.
FCG – Como foi a ideia do Programa Governo Presente? E neste período de Pandemia o programa está em execução?
SP – Primeiro, quero fazer aqui uma singela, mas necessária homenagem ao nosso amigo Dirceu Lanzarini. O ex-prefeito de Amambai estava muito próximo desse projeto. Com toda a certeza, sem o Dirceu o nosso Governo Presente seria bem menor do que o planejado. Infelizmente, o destino o levou de forma trágica e nos deixou uma lacuna muito grande nas articulações com municípios. Mas a vida segue e o seu legado nos deu mais forças ainda para continuarmos com o projeto. O projeto nasceu da necessidade de estender as mãos aos prefeitos, que como todos sabem estão à beira de um colapso por conta da longa crise financeira que atinge a todos. Hoje, o Governo Presente, o maior programa de investimentos da história de Mato Grosso do Sul, com previsão de investir R$ 4,5 bilhões até 2022, está a pleno vapor. Basta acompanhar as páginas do Diário Oficial e ver os editais de licitação publicados todos os dias para contratação de obras estruturais nos municípios. Um governo responsável e eficiente lança obras, planeja investimentos e executa os projetos. Eis a receita da administração Reinaldo Azambuja, que é de longe – sem nenhuma humildade – o melhor para Mato Grosso do Sul. Embora muitos ainda não compreendam o nosso projeto, não tenho dúvidas de que lá na frente seremos referência para outros tantos administradores.