* Transcrito do Jornal o Estado – Edição de nº 5.640
Por Andrea Cruz
Em passagem por Campo Grande, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, conversou com o jornal O Estado sobre o cenário da última eleição e também sobre as perspectivas para o próximo pleito, em 2022, quando devem ser escolhidos os próximos governadores, deputados estaduais e federais, além de senadores.
Mato Grosso do Sul, ao longo dos anos, na avaliação do líder dos tucanos, se transformou em São Paulo, onde o PSDB comanda o governo estadual há duas décadas. “Hoje, são os dois estados tucanos mais importantes do país, onde começa a andar com as próprias pernas e começa a virar uma entidade maior que uma pessoa”, afirma Araújo.
A construção do partido no Estado foi orgânica, segundo Bruno Araújo, e conduzida por muitas mãos. O resultado foi o fortalecimento do partido e, por consequência, dos seus candidatos. “Ou tem partido ou você não é eleito”, sentencia o ex-ministro, sobre a necessidade de partidos fortes na hora de enfrentar as urnas.
Com a certeza de que o partido voltará a ter um protagonismo mais relevante nas eleições, o presidente nacional do PSDB lembra que a legenda foi a mais votada do Brasil nas urnas, em 2020. Para as eleições de 2022, Araújo lembra que, nacionalmente, vai passar por alianças e reconhece o papel primordial para imunização de uma parcela da população contra a COVID-19 desempenhado pelo governador de São Paulo, João Dória.
De acordo com Bruno Araújo, a sucessão estadual em Mato Grosso do Sul, no ano que vem, será liderada pelo atual governador, Reinaldo Azambuja. Eduardo Riedel, que desde o início da atual gestão tucana atua como secretário estadual, é o cotado para encabeçar a chapa do PSDB, como candidato a governo. “Esse é um processo de construção, de diálogo e não só dentro do PSDB, como em todos os partidos da aliança”, adianta.
Araújo é advogado pela Faculdade de Direito do Recife (UFPE), foi eleito deputado estadual por dois mandatos consecutivos e, em seguida, deputado federal por três mandatos, onde exerceu diversas funções de destaque, como a liderança do PSDB, da oposição e a autoria do projeto de lei que criou o Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Licenciou-se da Câmara dos Deputados em maio de 2016 para assumir o cargo de Ministro de Estado das Cidades. Em novembro de 2017, Bruno Araújo reassumiu seu mandato na Câmara Federal e o cumpriu até janeiro de 2019.
O Estado: A cada eleição, O PSDB cresce no País. Para 2022, qual é a perspectiva do partido? E como deverá atuar para alcançar mais espaço?
Araújo: Eu nunca tive outro partido. São 27 anos de filiação, participei do PSDB Juventude e tenho a honra de ter me tornado presidente nacional. Sabemos que com o fim das coligações temos que pensar cada vez mais em conjunto partidário, pois é mais relevante do ponto de vista proporcional. Sabemos das dificuldades com que foi o financiamento dessa última eleição, as cotas que foram definidas de gênero e da compatibilização de negros e pardos. E nós sabemos sobre as dificuldades que tivemos durante a gestão, e o PSDB talvez tenha sido o único dos 35 partidos que tenha cumprido integralmente todas as regras de aplicação da Justiça Eleitoral [na campanha]. Lógico que com o preço, porque os outros partidos relaxaram nessa questão.
Fomos muito rigorosos. Na ponta, os parlamentares e candidatos pagam o preço desse rigor e nós vamos entender agora como a Justiça Eleitoral vai reconhecer a importância disso. E o PSDB vai ter o respaldo da Justiça Eleitoral pelo cumprimento em todas as regiões do país dessa aplicação. É importante dizer que mesmo com essa dificuldade e com o volume de recursos aplicados, o PSDB não teve um candidato laranja.
Pode ter tido candidato com pouco voto, mas não teve candidato para fazer mau utilização do recurso aplicado. Vamos trabalhar no próximo planejamento diante do resultado do PSDB nas eleições passadas. É importante lembrar que, depois de uma crise que tivemos em 2018, tivemos uma topada eleitoral. E em 2020 e voltamos a ser o partido mais votado do Brasil e MS ajudou nesse resultado. Essa entrega das regionais começa a ter efeito na trajetória individual daqueles que vão a eleição seja como deputado estadual ou federal, ou no conjunto a frente de um projeto majoritário porque não haverá coligação em 2022.
Cada um terá seu patrimônio eleitoral e com chance objetiva para viabilização. Tenho certeza que nós vamos voltar a ter um protagonismo mais relevante nas eleições. É fundamental que o PSDB volte a ocupar um espaço com mais relevância, assim como feito no passado. O partido precisa voltar a ter essa importância de protagonismo na Câmara e no Senado como já teve. O PSDB continua sendo o protagonista na vida dos brasileiros. Somos o partido que criamos, estabelecemos e consolidamos a estabilidade econômica e somos hoje um partido que está garantindo a vacina que imuniza a população brasileira. Então, de ponta a ponta, na economia e na saúde nós temos história, temos credibilidade.
O Estado: Mato Grosso do Sul teve um aumento significativo de representatividade nos últimos oito anos com o Governo do
Araújo: Temos a alegria de ter visto que Mato Grosso do Sul se consolidou como um PSDB orgânico. Um partido que não só cumpriu a posição de mais importante por ter governador, deputados estaduais e federais, mas porque fez no geral. Foi construído um partido que tem tamanho e vida orgânica. Essa vida orgânica é fundamental pelo poder que exercemos. Por exemplo, não adianta o deputado Paulo Corrêa ser a liderança, o Geraldo Resende ser bem-sucedido ou a Rose Modesto ter a sua história porque acabou as coligações. Para muitos, antigamente a conta era feita na hora e tudo se resolvia lá na frente nas alianças tendo voto para ficar entre os eleitos. Agora, acabou essa história. Ou tem partido ou você não é eleito.
Não adianta ter votos e não ser o suficiente. Ou ter coligação [majoritária] e não ter voto. Então, essa cumplicidade está consolidada e imagino que se estabeleceu. E nós levamos vantagem e avançamos com nosso partido. Porque por maior que seja a aliança com o nosso candidato a governador, nós temos partido para consolidar e eleger os nossos deputados estaduais e os federais. Isso só se dá porque houve um trabalho construído por Beto [Pereira], por Sergio [De Paula] e todos os outros que trabalham no partido. Eu lembro quando fizemos reunião de bancada em Brasília há muito tempo onde dizíamos ao Reinaldo [governador] que ele devia ser candidato a prefeito de Campo Grande.
É um processo de construção e viemos para aquela eleição [em 2012] quase fomos para o segundo turno, na época. Agora, estamos no segundo mandato de governador. Política são apostas e méritos de longo prazo. Às vezes, ela chega logo. Mas, às vezes, a eleição não dá certo naquele momento e precisa-se de exercício de urna. Foi isso que fizemos lá atrás, com bons resultados. Mato Grosso do Sul talvez seja hoje o estado mais equilibrado do país.
Um estado proporcionalmente com mais recursos para investir e essa é uma obra coletiva presidida pelo governador Reinaldo, mas não se constrói vida pública sozinho. É esse time que faz o PSDB, os aliados que participam do governo que ajudam a construir. Primeiro, é dizer da nossa alegria e nossa honra de ver o Mato Grosso do Sul ‘se transformar em São Paulo’. Hoje, são os dois estados tucanos mais importantes do país, onde começa a andar com as próprias pernas e começa a virar uma entidade maior que uma pessoa. E isso fortalece o governador, o partido e a todos nós.
O Estado: João Doria é o nome do partido para presidência?
Araújo: O PSDB sempre se caracterizou desde 1994 por ser um partido que teve condições objetivas de apresentar com candidaturas presenciais a população brasileira. Em 94 e 98, vencemos eleição no primeiro turno e depois disso tivemos em todas as eleições até 2018, mas mantivemos desempenho muito discreto em relação as nossas eleições presenciais. O PSDB sempre se destacou por ter ao longo de suas candidaturas mais de um governador. Temos quadros importantes. Um quadro que se coloca, que exercita e manifesta a sua opção de contribuir como presidente da República é o governador João Dória que tem feito entregas importantes em São Paulo. Sobretudo, conduziu a única alternativa desse momento, de ajudar a salvar vidas, e imunizar a população brasileira com a iniciativa de buscar a ciência na Ásia desenvolvida no Butantan. Ele insistiu no que se transformou na única alternativa até aqui de imunizar a população. O João Doria é um nome posto, um nome considerado de forma mais rigorosa pelo partido. Mas seguramente essa discussão vai ser dar de forma mais enfática a partir do segundo semestre deste ano.
O Estado: Uma das pautas em discussão atualmente na Câmara é sobre um possível processo impeachment do presidente Jair Bolsonaro. O assunto será pautado pela direção nacional? O PSDB após a vacinação praticamente se tornou o motivo de polarização pelo governo federal, como lidar com isso?
Araújo: Acho que o importante a manifestar é que desde 1994, os dois partidos que polarizaram a política nacional foram o PT e o PSDB. Em 2020, o PSDB se consolidou novamente como partido mais votado do Brasil e vemos o PT sem nenhuma capital no país. E assistimos em 2021 a polarização da discussão da alternativa da política nacional, vemos o presidente da República que está sem partido e o PSDB que tem eventualmente um candidato a presidente. Quero dizer com isso, que desde 1994 o PSDB continua sempre sendo o centro das alternativas apresentadas a população, como alternativa de governança e alternativa de política. Essa é a questão que constituí, o PSDB continua no centro da atenção política dos brasileiros. No processo de impeachment nós temos situações como, por exemplo, tenho assistido e visto absoluta falta de competência logística, de planejamento e não só para garantir a imunização dos brasileiros, (pois se não fosse o empenho do governo de São Paulo, coordenado pelo governador João Dória do PSDB) como nós temos assistido, quase que, um crime de lesa-pátria com a falta de oxigênio em Manaus. Isso, inclusive tem de ser objeto de investigação e se confirmar que havia aviso formal ao Ministério da Saúde, tudo isso precisa ser apurado. Nós saímos de um processo de impeachment há cerca de quatro anos. E é algo extremamente sensível, é algo que sempre gera um grau de trauma nas instituições.
Mas, vamos fazer a nossa parte, governando nossos estados e dando alternativas a população. E se em algum momento, nós percebemos que a coisa sai de um nível de controle e constitucional que ameace o país, o PSDB não vai deixar de agir, como agiu em outros momentos. O momento agora, para o PSDB é de consolidar atenção total a superar a maior crise pandêmica da história da humanidade dos últimos anos. Ajudar a salvar vidas, imunizar a população e esse é o nosso foco.
O Estado: Como o PSDB nacional vai atuar na contribuição para a sucessão estadual em MS?
Araújo: Em relação a 2022, o governador Reinaldo Azambuja é líder no processo da condição da sua sucessão e caminha com todos os bons olhos, simpatia e apreço nosso da nacional, em relação ao Eduardo Riedel e esse é um processo de construção, de diálogo e não só dentro do PSDB, como em todos os partidos de aliança. Nós não ganhamos ou vencemos a eleição no pós-venda. No ponto de vista da eleição para deputados e senador, o partido estará forte e com coligação robusta para entregar deputados estaduais e deputados federais.
No ponto de vista de alianças para governador e senador, a gente sabe que parceiros e partidos aliados têm ajudado no governo de Reinaldo Azambuja. Estamos confiantes que vamos continuar a contribuir com Mato Grosso do Sul no momento propício na sucessão do governador e tudo no seu tempo. Mas, estamos muito confiantes no espaço que temos aqui.
O Estado: No Senado Federal, o PSDB liberou o voto dos parlamentares para o comando da Casa? Isso dividiu o partido entre Simone e Pacheco. Uma vitória de Pacheco não estaria indo na mesma linha de Lira na Câmara?
Araújo: No Senado, há uma posição não formalizada do PSDB. Três ou quatro senadores que devem dar apoio a senadora Simone Tebet (MDB/MS) e o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) conterrâneo do líder de bancada na Câmara Federal, Rodrigo de Castro. A bancada do Senado ainda está avançando na discussão em relação a esse tema.