Os números muitas vezes iludem. Podem mentir, seduzir, ludibriar. E esta tem sido, infelizmente, uma prática das mais utilizadas num contexto sócio-político em que a verdade pode ser construída sobre ou para fins manipuláveis, fantasiosos.
Na política, jogar com os números é uma porta escancarada para realidades muito distintas. Há um contexto em que se manifesta a estatística da verdade, assentada com firmeza e claridade num cenário de informações que podem ser submetidas à prova e ao desafio entre a dúvida e o real.
Há, entretanto, outro contexto, descortinado num horizonte de simulações que, não-raramente, desembocam no hábito maledicente e criminoso da mentira. É o que se denota quando os fins se justificam por quaisquer meios, ainda que estes sejam podres, frágeis, sem nenhum alicerce na luz. É a enganação, a escuridão, o breu ético.
Muitos caem nessa trama que está longe de ser “cisa do destino” e tem muito mais a ver com critérios de escolhas. E por isso é de se lamentar que tal trama consiga arrastar em suas malhas consciências em princípio lúcidas, clarividentes, de intenções interessantes e bem apessoadas.
É o que aconteceu durante a atual campanha política, quando a ‘Caravana da Saúde’, iniciativa do governador Reinaldo Azambuja, virou alvo da fuzilaria de um de seus adversários. Não pela fuzilaria em si. Passível de reparos e críticas, a Caravana não é de fato uma solução definitiva como projeto de saúde. No entanto, trouxe soluções definitivas para problemas que seriam permanentes se não fosse a intervenção curativa das equipes médicas mobilizadas.
Problemas graves como a incapacidade visual provocada pela catarata, uma das ocorrências que causam a cegueira, foram solucionados pela Caravana. Eram milhares de pessoas que esperavam por uma simples e rápida intervenção cirúrgica havia meses, anos. A Caravana amparou mais de 90% das pessoas que padeciam nesta fila. Terá sido isto uma enganação ou uma perda de tempo, como sublinhou e adjetivou o adversário político do governador?
A ‘Caravana da Saúde’ antes de acontecer, foi bem explicada e divulgada pelo governo do Estado. Seria, como foi e está sendo, uma ação excepcional, em caráter de urgência, para garantir alguns procedimentos médicos e clínicos engasgados nas filas de espera da saúde pública. Não se encontrou outro meio imediato para socorrer esta agenda que impõe atenção imediata. Não mais do que este é o propósito da Caravana, cuja reedição está sendo pleiteada por todos os municípios do Estado.
Que se entenda como coisa de política a crítica e o ataque de um concorrente à ação governamental. Mas que não se aceite como manifestação natural, porque quem distorce a cena se desautoriza compulsoriamente. Para sentenciar se está sendo vítima de uma enganação ou se está aceitando ser massa de manobra para perda de tempo é a população-alvo do atendimento em saúde. Afinal, como o próprio acusador afirma em seu bordão de campanha eleitoral, o povo agora é o juiz. É mesmo?
GERALDO SILVA