A considerar as sucessivas intervenções do Ministério Público e ações da Polícia Federal e outros órgãos de fiscalização, controle e combate à corrupção, nos últimos anos o segundo maior município de Mato Grosso do Sul voltou a ser matéria-prima das páginas policiais e de escândalos envolvendo políticos. O período administrativo que começou em 2017, com a instalação das gestões do Executivo e Legislativo, vai fechar em 2020 marcado por vários episódios que confirmam vocações natas para o malfeito e dão trabalho às forças-tarefa que atuam na caça de corruptos.
A prefeita Délia Razuk (PTB) não é investigada e está fora do noticiário de escândalos, mas não deixou de ser contaminada indiretamente por responsabilidade de alguns assessores que escorregaram feio, segundo denúncias do MP e investigações da polícia. Secretários e assessores da prefeita caíram na malha fina de operações, como a que levou para a prisão o titular da Secretaria de Saúde, Renato Oliveira Garcez. Na terça-feira ele foi acompanhar mais uma rodada de depoimento de testemunhas no caso em que é acusado de liderar esquema de corrupção, pelo qual teriam sido desviados cerca de R$ 500 mil.
Ele foi preso em seis de novembro do ano passado, na segunda fase da Operação Purificação, da Polícia Federal. Também foi preso na operação o ex-diretor financeiro da Secretaria Municipal de Saúde, Raphael Henrique Torraca Augusto, o “Pardal”, apontado como sócio de Garcez numa empresa de fachada contratada para fornecer marmitas à Funsaud (Fundação Municipal de Serviços de Saúde).
Além deles, são réus na ação penal Ronaldo Gonzales Menezes, “testa-de ferro” na empresa que fornecia refeições para a Secretaria, e as ex-funcionárias da pasta, Dayane Jaqueline Foscarini Winck e Sandra Regina Soares Mazarim, mulher de Raphael. Os três estão em liberdade. Ronaldo fez delação premiada e colaborou nas investigações.
CIFRA NEGRA
Ainda em novembro de 2019, um acórdão publicado pela 1ª Câmara Criminal do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) liberou os vereadores Cirilo Ramão (MDB), Pedro Pepa (DEM) e Idenor Machado (PSDB), investigados por suposto esquema de corrupção na Câmara de Dourados, de participarem das sessões juntos.
Os três foram presos em dezembro de 2018 dentro da Operação Cifra Negra, que investiga suposto esquema de corrupção na contratação de empresa especializada na gestão de software dentro da Câmara de Dourados. Afastados judicialmente, Pedro Pepa e Cirilo Ramão ainda retomaram os seus mandatos em 16 de agosto, porém, por não respeitarem medidas cautelares estabelecidas anteriormente, acabaram levados à delegacia novamente no dia 30 de agosto. Idenor Machado só retornou ao cargo no início de outubro.
No início da semana os vereadores voltaram a ser julgados pelos próprios colegas, em sessão especial da Câmara Municipal. A acusação é por quebra de decoro parlamentar. A cassação dos dois e do vereador Idenor Machado (PSDB) – também réu na mesma ação – foi solicitada em 2019 pelo farmacêutico Racib Panage Harb, presidente do Movimento Dourados Contra a Corrupção.