Até à quinta-feira passada (29) o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) já havia definido 15 nomes para o primeiro escalão. As escolhas e o processo que as conduziu indicam que de uma coisa o capitão não vai abrir mão: quer um ministério comprometido com seu pensamento político e ideológico.
E já avisou a cada membro do seu time que não vai tolerar condescendência alguma com atos de corrupção e nem frustração de iniciativas por incapacidade ou negligência.
Bolsonaro disse que vai cobrar empenho pessoalmente e com frequência de cada assessor, além de exercer controle minucioso sobre cada ação de governo. A montagem da equipe, para não fugir à tradição, deixa alguns ruídos e reclamações pelo caminho. É o caso do incômodo causado à bancada evangélica quando se ensaiou a nomeação de um ministro da Educação que não tinha o compromisso com pautas ideológicas emblemáticas da direita, como o projeto Escola Sem Partido.
Depois de aceitar a intervenção dos religiosos e designar o colombiano Ricardo Velez Rodrigues para o cargo, Bolsonaro teve outro arranhão com os evangélicos. As igrejas que deram apoio a Bolsonaro queriam o aproveitamento do senador Magno Malta (PR/ES) em seu governo. Malta não conseguiu se reeleger e estava sendo cotado para o Ministério da Cidadania. Porém, foi confirmada a nomeação do deputado Osmar Terra (MDB), causando grande alvoroço entre os pastores. Um deles, Silas Malafaia, defensor da indicação de Malta, deixou evidente a insatisfação com a opção por Terra.
Os bombeiros colocaram panos quentes e tudo indica que o decepcionado Malta terá para si um espaço de destaque na equipe. Não necessariamente um ministério. As polêmicas não pararam por aí. A oposição e até aliados de Bolsonaro questionaram alguns nomes, mas sem elevar o tom de voz para garantir uma condição essencial determinada pelo presidente: coesão e unidade para dar um bom início à administração. O apelo se fez ainda mais imperativo depois que o presidente eleito contrariou a si mesmo, pois tinha prometido reduzir os ministérios de 29 para 15, e agora já tem 19, podendo avançar para mais um ou dois.
Também são pontos de destaque a nomeação do juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça e o aproveitamento de vários militares, com predominância de oficiais do Exército, arma à qual Bolsonaro serviu e onde se reformou com o posto de capitão. Moro acrescenta ao governo um peso diferenciado e de forte impacto na aprovação popular, assim como a presença de militares, escolhas que avivam a expectativa popular em um governo duro e implacável no combate à corrupção e ao crime organizado.
FORÇA REGIONAL
Para Mato Grosso do Sul a escalação ministerial foi uma das boas notícias que o novo governo trouxe antes mesmo de ser iniciado. Bolsonaro chamou uma dupla de políticos sul-mato-grossenses para a Esplanada dos Ministérios: Tereza Cristina, na Agricultura, e Luiz Henrique Mandetta, na Saúde. Ambos são deputados federais e pertencem ao DEM, com uma diferença: ela se reelegeu e Mandetta não quis tentar novo mandato.
Especula-se que pode acontecer ainda outra convocação presidencial em terras guaicurus. Os nomes ventilados vão do atual titular da Sudeco (Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste), Marquinhos Derzi Wasilewski, que continuaria à frente do órgão, até o senador emedebista Waldemir Moka, que não se reelegeu, e o presidente da Assembleia Legislativa, Júnior Mochi, também do MDB e que concorreu ao governo estadual sem sucesso.
Onyx Lorenzoni (Casa Civil)
É o ministro da transição de governo e primeiro escolhido por Bolsonaro. Vai chefiar a Casa Civil. Formado em Medicina Veterinária, presidiu a Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados. É considerado um dos 100 parlamentares mais influentes do Congresso. Foi membro de comissões parlamentares de inquérito (CPIs), entre as quais a dos Correios, do Cachoeira e da Petrobras; e relator da Subcomissão de Normas de Combate à Corrupção e da Comissão. Está sendo investigado por recebimento de caixa 2 da empresa JBS para sua campanha eleitoral.
Paulo Guedes (Economia)
É o nome forte da Economia no próximo governo. Formado em Economia, com mestrado pela Universidade de Chicago, é também professor da PUC-Rio e da FGV, fundador do Banco Pactual e do Instituto Millenium. Irá comandar o Ministério da Fazenda, a ser fundido com o Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Sérgio Moro (Justiça)
Com doutorado em Direito do Estado e especializações em lavagem de dinheiro na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Aos 34 aos passou no concurso para juiz. Assumiu a 13ª Vara de Curitiba, especializada em lavagem de dinheiro. Atuou no caso Banestado entre 2003 e 2007, quando condenou o doleiro Alberto Youssef pela primeira vez. Em 2012, foi nomeado assessor especial da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do mensalão do PT. Em 2014 assumiu a Operação Lava Jato. Em quatro anos à frente do caso condenou mais de 140 pessoas.
Ernesto Araújo (Relações Exteriores)
Diplomata de carreira há 29 anos, foi definido como um ‘brilhante intelectual’ pelo presidente eleito Jair Bolsonaro. No Itamaraty, é o atual diretor do Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos.
General Augusto Heleno (Segurança Institucional)
Cotado inicialmente para o Ministério da Defesa, assumirá o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e terá a missão de coordenar a área de inteligência do governo. Na reserva desde 2011, comandou a missão de paz das Nações Unidas no Haiti, foi comandante militar da Amazônia e chefiou o Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército.
General Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo)
Substituirá o ministro Carlos Marun na Pasta que cuida da articulação com o Congresso. É formado em Engenharia Civil. Comandou as missões de paz da ONU no Haiti (2007 a 2009) e na República Democrática do Congo (2013 a 2015). Chefiou a Secretaria Nacional de Segurança Pública durante parte da gestão do presidente Michel Temer.
General Fernando Azevedo e Silva (Defesa)
Está na reserva. Já foi comandante militar do Leste e chefe do Estado-Maior do Exército. Também chefiou a Autoridade Pública Olímpica durante a gestão da presidente Dilma Rousseff. Atualmente, é assessor do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli.
Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência)
É um dos conselheiros de Jair Bolsonaro e foi uma das figuras mais próximas ao presidente eleito durante a campanha deste ano. Advogado, preside a Executiva Nacional do PSL. Terá a função de modernizar e desburocratizar o Estado.
Gustavo Canuto (Desenvolvimento Regional)
É o secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional. Sua Pasta reunirá os ministérios das Cidades e da Integração Nacional. Formado em Engenharia da Computação e em Direito, trabalhou na Secretaria de Aviação Civil, na Secretaria Geral da Presidência da República e na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Luiz Henrique Mandetta (Saúde)
Médico, ex-secretário de Saúde de Campo Grande e deputado federal no segundo mandato. É contra o Programa Mais Médicos, criado em 2013 pela então presidente Dilma Rousseff. Não quis ser candidato à reeleição este ano.
Marcelo Álvaro Antônio (Turismo)
Deputado mais votado em Minas Gerais, integra a bancada evangélica. Já atuou em comissões externas de acompanhamento de ações sobre o vírus da zika e da situação hídrica dos municípios mineiros.
Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia)
Formado em Engenharia pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e oficial da reserva do Exército, ficou conhecido quando, em 2006, tornou-se o primeiro e único astronauta brasileiro a viajar para o espaço. Seu grande desafio será o incentivo à pesquisa e à manutenção de jovens cientistas no Brasil.
Osmar Terra (Ministério da Cidadania)
Sua Pasta vai abrigar o Desenvolvimento Social, Esporte e Cultura. Médico com mestrado em Neurociência, foi prefeito de Santa Rosa (RS), secretário de Saúde do Rio Grande do Sul e ministro do Desenvolvimento Social no governo de Michel Temer. Terá como desafios levantar fundos para pagar o 13º salário no Bolsa Família (proposta de campanha de Bolsonaro), além de combater as fraudes no programa.
Ricardo Vélez Rodríguez (Educação)
Filósofo, nascido na Colômbia e naturalizado brasileiro, é autor de mais de 30 obras. Mestre em pensamento brasileiro pela PUC-Rio, doutor em pensamento luso-brasileiro pela Universidade Gama Filho e pós-doutor pelo Centro de Pesquisas Políticas Raymond Aron, é professor emérito da Escola de Comando do Estado Maior do Exército. Entre seus maiores desafios está o de recolocar os ensinos básico e fundamental a serviço das pessoas.
Roberto Campos Neto (Banco Central)
Neto do também economista já falecido Roberto Campos, expoente do pensamento liberal e defensor do Estado minimalista, é formado pela Universidade da Califórnia. Tem especialização em Economia com ênfase em Finanças, trabalhou no Banco Bozano Simonsen de 1996 a 1999 e desde 2000 é diretor do Banco Santander.
Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura)
Foi diretor do Dnit. É consultor legislativo da Câmara dos Deputados. Já foi chefe da seção técnica da Companhia de Engenharia do Brasil na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, coordenador-geral de Auditoria da Área de Transportes da Controladoria-Geral da União (CGU) e diretor-executivo e diretor-geral do Dnit. Formado em Engenharia Civil com pós-graduação em Gerenciamento de Projetos e Engenharia de Transportes, iniciou sua carreira no Exército e tornou-se auditor concursado da CGU. Sua pasta vai abrigar ainda o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil.
Tereza Cristina (Agricultura)
Deputada federal em segundo mandato, preside a Frente Parlamentar Agropecuária. Será a segunda mulher a comandar o Ministério. Engenheira agrônoma e ruralista, foi uma das principais defensoras do projeto que muda as regras para flexibilizar o registro de agrotóxicos. Foi secretária da Produção de Mato Grosso do Sul e gerente-executiva em outras pastas.
Wagner Rosário (Transparência e CGU)
Comanda o Ministério da Transparência e CGU desde junho de 2017 por indicação do presidente Michel Temer. Será mantido na pasta por Jair Bolsonaro. É graduado em Ciências Militares pela Academia das Agulhas Negras (Aman), com mestrado em Combate à Corrupção e Estado de Direito pela Universidade de Salamanca, na Espanha. Desde 2009, é auditor Federal de Finanças e Controle.
André Luiz de Almeida Mendonça (AGU)
Advogado e pastor na Igreja Presbiteriana Esperança, em Brasília, com pós-graduação em Direito, é corregedor-geral da Advocacia-Geral da União desde 2016.