Antes, uma fama avassaladora, que durante mais de quatro anos o colocou no centro das manchetes e atenções do Brasil e do exterior como um símbolo da luta contra a corrupção. E agora, depois do processo constrangedor e humilhante que o levou a pedir demissão do governo de Jair Bolsonaro, cresce a sombra ameaçadora de novos e profundos arranhões.
Esta é a realidade de Sérgio Moro, o ex-ministro da Justiça e ex-juiz federal que presidiu julgamentos da Lava Jato, lançando o ex-presidente Lula e importantes personagens do governo petista nas páginas policiais, na mira furiosa de protestos de rua e na cadeia. Hoje o julgador está sendo julgado, acusado pela defesa de Lula de ter agido com imparcialidade e violações da lei nos processos da Lava Jato.
Enquanto Lula tem os direitos políticos reabilitados, com a extinção de todas as suas condenações, Moro, à distância, está no banco dos réus. Esse julgamento transcorre na 2ª Turma do STF, formada pelos ministros Edson Fachin, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Nunes Marques. Dos cinco ministros que votam, quatro já se manifestaram, dois a favor de Moro e dois contra. Só ficou faltando o voto do ministro Nunes Marques.
Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Marques contribuiu com o clima de suspense e pediu vistas ao processo, sem data para dar seu voto. Enquanto esse dia não chega, o ambiente político e institucional do Brasil fica mais nervoso, em tensão reforçada nas contundentes declarações de voto de Lewandowski e Mendes. Ambos – sobretudo o segundo – não economizaram referências negativas para classificar a conduta de Moro.
POPULISMO JURÍDICO
Gilmar Mendes afirmou que o então juiz de primeira instância cometeu crime para perseguir o ex-presidente Lula e tirá-lo do processo eleitoral de 2018. Taxou a Lava Jato de “projeto populista de poder”, usou expressões duras como “populismo jurídico”, “instrumentalização da justiça”, “juiz subserviente” e “ o maior escândalo judicial da nossa história”. Segundo ele, Moro não se envergonhava de “pular o balcão”, para influir ilegalmente nos processos que conduzia com os procuradores do Ministério Público Federal (MPF).
Para Mendes, os magistrados que eventualmente concedessem habeas corpus a alvos da Lava Jato corriam o risco de serem massacrados pelo que ele chamou de “conluio entre a mídia e os procuradores” de Curitiba. “O combate à corrupção tem que ser feito dentro dos moldes legais. Não se combate crime praticando crime. Ninguém pode se achar o ó do borogodó, cada um vai ter seu tamanho no final da história. Um pouco mais de modéstia, calcem as sandálias da humildade”, sugeriu.