Desfiles de blocos de rua e de escolas de samba; fantasias coloridas e personagens que se movimentam ao som de muita música e danças como samba, axé, frevo e marchinhas antigas; ambientes superlotados e de intensa aglomeração pela cidade; esses são alguns dos muitos elementos que dão o tom para a festa popular mais celebrada e festiva do país: o Carnaval.
A tradição carnavalesca é um momento de muita alegria e diversão, pois atrai multidões de foliões que se aglomeram para celebrar a vida e extravasar suas emoções. Para muitos é um momento de se soltar na maratona de curtição. Porém, para outros é uma das épocas do ano mais desafiadoras, principalmente para aqueles que sofrem com o Transtorno de Ansiedade Social.
O fóbico social ou ansioso social, vive em meio a um dilema de dor e angústia, pois todo seu medo e pânico concentram-se na exposição diante de outras pessoas e na angústia de se ver em meio a aglomerações e multidões, características desse tempo de carnaval. Em muitas situações, essa pessoa se enxerga restrito, ainda mais, às limitações de sua vida social e da interação com o meio em que vive, buscando, na maior parte das vezes, a reclusão e o isolamento extremo.
O nervosismo, o desconforto e o mal estar diante de uma grande concentração de pessoas, pode provocar crises de choro descontroladas e intensas, imobilização temporária, irritabilidade excessiva, inquietação, tensões musculares, taquicardia, suor excessivo, tontura, tremores, dificuldade de concentração e foco, sensação de falta de ar, vergonha e pânico. Ou seja, sintomas de grande impacto que podem ser intensificados por pensamentos negativos, intrusivos e recorrentes, além de provocar uma sensação incontrolável e desgastante de exaustão emocional.
E como uma pessoa que sofre com a ansiedade social pode aproveitar essa época de carnaval, sem agravar sua condição clínica ou piorar os sintomas do transtorno? Em primeiro lugar é preciso encarar e respeitar, de forma consciente, os próprios limites. Buscar se divertir em eventos de proporções menores, com um número mais reduzido de pessoas. Evitando, assim, as grandes aglomerações.
Para reduzir o impacto negativo dos desconfortos, se faz necessário buscar estar sempre junto a uma rede de apoio, seja de familiares ou amigos de confiança. Planejar a diversão determinando um tempo limite também é fundamental para evitar uma sobrecarga física e emocional. A escolha do local e a adoção de itens e ferramentas que auxiliem na redução de estímulos excessivos, como óculos escuros e fones de ouvido, também é uma excelente estratégia de autocuidado. Além disso, para lidar bem com a situação, é preciso evitar o excesso de bebidas alcóolicas, alimentos pesados e gordurosos e estar sempre hidratado, protegido do excesso de calor e atento à respiração, praticando a técnica diafragmática, em caso de necessidade.
Enfim, o carnaval chegou e a folia é para todos que queiram curtir os momentos dessa incrível festa popular, desde que sejam preservados os cuidados com o corpo e, principalmente, com a mente.
Os sintomas do Transtorno de ansiedade social são crônicos e podem invalidar a interação do indivíduo. Porém, com planejamento antecipado e a observação de todos os pontos que geram gatilho, bem como o respeito aos próprios limites, com foco na diversão responsável e no bem estar, é possível curtir os dias de folia, sem agravar os impactos negativos ou potencializar o sofrimento emocional.
Dra. Andréa Ladislau / Psicanalista