Em 12 de maio de 2016, ao assumir a Presidência da República depois de ter ajudado a golpear a titular Dilma Rousseff (PT), o emedebista Michel Temer nomeou 24 ministros – 15 deles, ou 80% do total, faziam parte do rol de investigados pela Justiça, dos réus em processos ou tiveram seus nomes citados na Operação Lava Jato. Em dois anos, vários deles foram substituídos, alguns presos, outros refugiados em mandatos eletivos – mas a base presidencial continua com o mesmo e deplorável recorte de suspeição.
A maioria desses operadores que decidiram a derrubada de Dilma e a ascensão de Temer pertence ao MDB. Quando presidiu a Câmara, por exemplo, o deputado Eduardo Cunha trabalhou o enredo que favoreceu o amigo e correligionário para destronar a petista e apoderar-se da faixa presidencial. Mas não conseguiu atravessar ileso a empreitada, pois foi denunciado, perdeu a base e o mandato, indo parar na cadeia.
Além do staff governamental, o ciclo Temer se mantém no amparo de uma força-tarefa que mescla a legião de deputados, senadores, membros de outros poderes e órgãos auxiliares e ainda de uma confraria de “amigos do rei”, que são paus para toda obra. Destes últimos, está no ar, bem viva, a investigação policial de amigos pessoais do presidente, o empresário e advogado José Yunes, que foi seu assessor, e o coronel João Batista Lima Filho, da reserva da Polícia Militar. Os dois chegaram a ser presos (soltos depois), juntamente com Antonio Celso Grecco, dono da Rodrimar, e Wagner Rossi, ex-ministro da Agricultura, suspeitos de irregularidades na edição de decreto relacionado ao funcionamento dos portos.
No círculo de batedores e amigos do presidente estão ou já foram presos o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha; o ex-ministro Geddel Vieira Lima; e o ex-ministro e ex-presidente da Câmara Eduardo Henrique Alves, além do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures. No apartamento de Geddel, um dos alvos da Lava-Jato, a Polícia Federal encontrou R$ 51 milhões em espécie em setembro de 2017.
O dinheiro seria parte de propinas operadas pelo esquema que foi denunciado em delações. O montante – maior volume de dinheiro vivo já apreendido pela PF na história – em que foram encontradas impressões digitais do emedebista, estava em um apartamento na capital baiana a pouco mais de um quilômetro da residência de Geddel. A PF descobriu o tesouro por meio de uma denúncia anônima. Ex-ministro, ex-deputado e operador de Temer, segundo as denúncias, Geddel está em prisão domiciliar e é investigado por lavagem de dinheiro.
A MALA
Rocha Loures protagonizou outro episódio que chamou a atenção para esta ciranda de corrupção. Ex-deputado e considerado um dos operadores de Temer pela Procuradoria-Geral da República, Loures ficou conhecido como o “homem da mala”. Ele se tornou réu por corrupção e lavagem de dinheiro por receber e carregar a mala com R$ 500 mil em espécie, recebidos num restaurante em São Paulo. Loures havia sido seguido e filmado por agentes da PF.
Também homens-fortes de Temer, dentro e fora do Governo ou do Congresso Nacional, atuam e atuaram os ex-ministros Romero Jucá (que voltou ao Senado para liderar a bancada governista) e Henrique Eduardo Alves, que acabou preso; Moreira Franco, que foi secretário do Programa de Parceria de Investimentos; Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil. Todos são do MDB, partido de Temer.
Padilha tornou-se réu numa ação civil de improbidade administrativa, acusado de ordenar o pagamento superfaturado de R$ 2 milhões a uma empresa, quando foi ministro dos Transportes do governo Fernando Henrique Cardoso (1997-2001). Na ação, ajuizada em 2003 pelo Ministério Público Federal e aceita em 2013 pela 6ª Vara Federal do DF, Padilha foi apontado como “lobista” que usou do seu cargo para atender a “pleitos políticos para pagamentos absolutamente ilícitos e ainda por cima superfaturados”.
Também na gestão Temer foram ou são alvos de investigação os ministros e ex-ministros Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações); Blairo Maggi (Agricultura, Pecuária e Abastecimento); Sarney Filho (Meio Ambiente); Helder Barbalho (Integração Nacional); Ricardo Barros (Saúde); Marx Beltrão (Turismo); Maurício Quintella (Transportes); e Leonardo Picciani (Esportes). Raul Jungmman (Defesa), Mendonça Filho (Educação), Fernando Coelho Filho (Minas e Energia) e Bruno Araújo (Cidades) citados na planilha da Odebrecht, apreendida pela Polícia Federal na sede da construtora, em março, durante a 23ª fase da Lava Jato.
O ex-ministro do Planejamento, Romero Jucá, deixou o ministério do governo Temer após ser flagrado em gravação com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, articulando o fim da Operação Lava Jato.