A prisão de um dos maiores líderes políticos da história brasileira, Luiz Inácio Lula da Silva, pode estar dando ao Brasil e ao mundo uma espécie de garantia de que desta vez as instituições provarão que não existe ninguém acima da lei, que o crime não compensa e que a impunidade poderá ser em breve uma coisa do passado. Na cadeia e inscrito na Lei da Ficha Limpa, que o torna inelegível, ainda assim Lula foi mantido por seu partido, o PT, como pré-candidato à presidência da República.
A ordem de prisão foi expedida na quinta-feira passada, 5, pelo juiz federal Sergio Moro, que preside os julgamentos da Operação Lava Jato. Ele havia condenado Lula no caso do triplex do Guarujá a nove anos e três meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em seguida, a condenação foi mantida pelo Tribunal Regional Federal (TFR-3), de Porto Alegre, e a pena ampliada para 12 anos e um mês.
O mandado de prisão foi expedido contra Lula e José Adelmário Pinheiro Filho (o Léo Pinheiro), ex-presidente da construtora OAS, e Agenor Franklin Magalhães Medeiros, ex-diretor da OAS, logo depois de Moro receber o comunicado do TRF-4 sobre o trânsito da ação. Para a prisão de Lula, Moro fez algumas concessões, como a proibição do uso de algemas e a opção para ele se apresentar à Polícia Federal em Curitiba até 17 horas de sexta-feira, 6.
Lula não atendeu esta solicitação. Ficou na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, até sábado (7). De manhã, participou de um ato que seria a celebração religiosa póstuma pelo aniversário de sua esposa, Marisa Leticia. Só se entregou à noite, depois de centenas de militantes do PT e movimentos sociais tentarem impedir sua saída para ir ao encontro dos agentes da PF.
Inicialmente, o condenado ficará preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Com dois mandatos de presidente da República, Lula saiu das páginas gloriosas da política e caiu nas manchetes policiais, depois de sofrer duas condenações por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Ele passa os seus primeiros dias de reclusão lendo, na maior parte do tempo. Está numa acomodação especial e isolada, sem muitas regalias. Uma delas foi assistir pela tevê à decisão do Campeonato Paulista e vibrar com a vitória sobre o Palmeiras que deu o título regional ao Corinthians, seu time de coração.
Vários parlamentares e lideranças políticas estavam tentando visita-lo na prisão, mas até terça-feira passada o juiz Sérgio Moro não tinha autorizado. Curioso é que enquanto grande parte da sociedade brasileira comemora a decisão da Justiça e torce para que essa varredura não cesse, na Argentina o Prêmio Nobel da paz de 1990, Adolfo Perez Esquivel, lançou a campanha a favor da indicação de Lula para receber a mesma premiação, fazendo a coleta de 150 mil assinaturas.
BLOQUEIO
A Justiça Federal determinou, na terça-feira, 10, o bloqueio dos bens do ex-presidente, do Instituto Lula e de seu dirigente máximo, Paulo Okamotto, e da L.I.L.I.S, empresa de palestras do petista. A sentença partiu da 1ª Vara de Execuções Fiscais de São Paulo, visando à garantia do pagamento de dívida fiscal com o governo federal no valor de quase R$ 30 milhões, de acordo com a Justiça.
A informação foi anotada pela Junta Comercial de São Paulo. Em relação a Lula, ao instituto e à empresa de eventos, o débito soma R$ 15 milhões. No caso de Okamotto, presidente do instituto, o valor supera R$ 14 milhões. Em nota, as assessorias do Instituto Lula e do presidente do Instituto, Paulo Okamotto, afirmaram que o bloqueio tem como objetivo limitar as possibilidades de defesa do ex-presidente e vão recorrer.
“A medida é mais um ataque de lawfare, a guerra jurídica contra Lula com fins políticos, para sufocar as atividades do Instituto e dificultar o direito do ex-presidente de se defender. Estamos recorrendo tanto do mérito, porque os impostos foram pagos, quando do bloqueio de bens”, acentuou a defesa.