Há pouco mais de um ano, o engenheiro Áuro Simões Pólvora, 64, descobriu três tumores na próstata. A notícia abalou a autoestima dele e da família, mas não tirou a fé na medicina e tão pouco a esperança da cura. “Na época, meus filhos se desesperaram. Fiquei noites sem dormir, mas fui em busca de um tratamento e aos poucos os médicos foram me tranquilizando”, conta.
Para quem, desde muito novo, sempre fez questão de manter a saúde em ordem, realizando os exames de rotina, a descoberta de não apenas um, mas três tumores cancerígenos na próstata foi um choque. “Nunca deixei minha saúde em segundo plano por causa de preconceitos. Mesmo antes da idade indicada fazia meus exames de PSA e toque retal periodicamente e o diagnóstico me pegou de surpresa. Se não fosse a rotina de manter meus exames em dia, eu não teria chance de cura”, explica Áuro.
Áuro fez um relato breve de sua luta contra uma doença silenciosa, envolta em preconceito, e que é responsável pela morte de um a cada 36 homens no Brasil, durante a palestra ‘Novembro Azul e as Doenças da Próstata’, ministrada pelo especialista em urologia José Ricardo Cruz Silvino, no auditório do Hospital Cassems de Campo Grande. A palestra foi realizada nesta segunda-feira (27), data em que se comemora o Dia Nacional de Combate ao Câncer.
O médico urologista foi incisivo ao dizer que não adianta alimentar o preconceito. É preciso mudar a ideia de que o homem perderá sua masculinidade ao se submeter aos exames necessários para o diagnóstico do câncer de próstata. “Em algum momento da vida o homem terá de fazer o exame do toque retal. Se não fizer mais cedo, como forma de prevenção, terá de fazer na fase de tratamento, o que é bem pior, pois a doença estará em estado avançado e sem chances de cura”, esclarece.
José Ricardo também reforçou que não adianta fazer apenas o exame de sangue (PSA) para o diagnóstico do câncer de próstata. O toque retal é muito importante porque existem doenças que podem provocar alterações no exame de sangue, causando confusão na hora do diagnóstico. Exemplo disso é a hiperplasia prostática, que provoca o aumento da próstata e por consequência o estreitamento do canal por onde passa a urina. Embora um dos sintomas possa ser confundido com o câncer, a hiperplasia tem tratamento simples. Bem diferente dos tumores cancerígenos, que surgem na parede externa da próstata (por isso é importante o toque retal, momento em que o médico pode sentir a presença do tumor), a hiperplasia é um aumento da parte interna da glândula e não tem malignidade.
ESTATÍSTICAS
O câncer de próstata é uma doença silenciosa, que causa metástase óssea e evolui para a morte se não houver o diagnóstico precoce. Se detectada no início tem mais de 90% de chance de cura. A doença não faz distinções, atingindo homens de todas as classes sociais. No Brasil o câncer de próstata é o que mais mata, sendo que um a cada seis homens desenvolverão a doença.
PREVENÇÃO
Os números vão mais além. Pesquisas indicam que pelo menos 44% dos homens brasileiros não vão ao urologista. “É indicado que os homens façam pelo menos uma visita por ano ao urologista e iniciem os exames preventivos aos 50 anos”, explica o médico. “Aqueles homens que apresentam fatores de risco, como casos de câncer de próstata na família, são negros ou possuem uma dieta alimentar rica em gordura saturada têm dez vezes mais chances de desenvolver a doença em sua forma mais agressiva, por isso devem iniciar os exames preventivos aos 45 anos”, recomenda.