O ex-governador André Puccinelli (PMDB) e alguns de seus mais destacados correligionários – como o ex-deputado e ex-secretário de Obras, Edson Giroto, e o deputado federal Carlos Marun – fazem uma imprevisível travessia política para o ano eleitoral. Seus eventuais projetos para as urnas de 2018 estão ameaçados por causa de pendências judiciais e outros contextos de desgastes políticos e morais.
Ao deflagrar a Operação Lama Asfáltica – desdobrada em outras duas, Fazendas de Lama e Aviões de Lama -, a Polícia Federal, Ministério Público, Controladoria-Geral da União e Receita Federal tinham elementos para subsidiar e reforçar a suspeita de que nos governos de Puccinelli funcionou um esquema voraz de desvio de verbas públicas mediante operações fraudulentas em vários contratos com empreiteiras e fornecedores.
Segundo as investigações, Puccinelli comandava o esquema, numa engrenagem que era movimentada por assessores, aliados e amigos íntimos, entre eles Giroto, o seu secretário de Fazenda, André Cance, e o empresário Mirched Jaffar, dono da Gráfica e Editora Alvorada. Porém, o maior ponto de apoio para a drenagem dos recursos era o megaempreiteiro João Amorim, cujas empresas detinham o controle das licitações mais importantes, de acordo com a força-tarefa da Lama Asfáltica. Várias pessoas acusadas juntamente com Puccinelli chegaram a ter seus bens bloqueados pela Justiça, que ainda não deu sua sentença final para o volumoso processo.
Por seu turno, Carlos Marun vive na divisória entre céu e inferno da política. No ambiente específico da base governista de Michel Temer e no universo específico de seu território regional de influência política sente-se fortalecido, principalmente depois de ser escolhido relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que vai investigar as ações do Grupo J&F. Mas é no ambiente da opinião pública que Marun deve prestar atenção e fazer avaliação crítica.
A repercussão, de modo geral, foi negativa, tendo em vista que pelos últimos acontecimentos a CPMI da J&F já foi estigmatizada como um jogo de cena para proteger Temer e demonizar a empresa dos delatores premiados Joesley e Wesley Batista. Provas dessa imagem nada alentadora para Temer são dadas diariamente nos veículos de comunicação, mídias sociais, eventos e sessões do Congresso Nacional. A escolha de Marun deu o ensejo para que a CPMI fosse batizada de “comissão chapa branca”. Otto Alencar (PSD-BA), um dos deputados que deixaram a Comissão por desconfiar da indicação, foi incisivo: “Carlos Marun é testa-de-ferro de Temer. O que vai acontecer então com uma CPI chapa branca? Absolutamente nada. O presidente está envolvido nas denúncias de corrupção, está gravado, mas nada disso passa na CPI”.