A superposição quântica, explica o cientista Jonathan Banks, é a capacidade de algo existir em dois estados conflitantes ao mesmo tempo, até ser diretamente observado. Da mesma forma, Constelação é ao mesmo tempo um thriller psicológico envolvente e elaborado com precisão e uma história de ficção científica confusa e de ritmo lânguido, dependendo inteiramente do episódio em que você está vendo.
Juntamo-nos à astronauta sueca Jo Ericsson (Noomi Rapace) a bordo da EEI no meio de um turno de um ano longe de seu marido Magnus (James D’Arcy) e de sua filha Alice (interpretada pelas gêmeas Davina e Rosie Coleman).
Quando uma colisão repentina causa estragos, mata um outro tripulante, Paul Lancaster (William Catlett), Jo deve reparar o módulo danificado para poder voltar à Terra antes de ficar sem ar. E tudo isso causado pela invenção de um astranauta aposentado, Bud Caldera (Jonathan Banks), também envolvido em um acidenta da então Apollo 18.
Mas, em sequências que apontam tanto para um horizonte de eventos quanto para a gravidade, aquelas horas finais no espaço são pontuadas por alucinações sinistras: sua filha em uma cabine fustigada pela nevasca e uma porta de armário sinistra. Porém, só quando Jo está de volta em segurança à terra firme é que a premissa central do programa gradualmente começa a se afirmar. O carro dela, antes vermelho, agora é azul; sua filha não fala mais seu sueco nativo; e seu casamento, antes feliz, agora parece tenso e distante. Entretanto, o seu relato da colisão (envolvendo o cadáver dessecado de um cosmonauta russa há muito falecida) é descartado de imediato numa demonstração enlouquecedora de iluminação institucional.
Tudo isto se desenrola no meio de uma série de momentos fracturados que parecem conformar-se apenas vagamente com o conceito de tempo linear. É um modo elíptico e desorientador de contar histórias que mistura flashbacks reais (e para a frente e para os lados) com aparentes alucinações – raramente se preocupando em distinguir entre os dois. A atmosfera carregada de pavor garante que raramente ficamos entediados, mas também ficamos perpetuamente à procura de fios narrativos que permanecem irritantemente fora de alcance. Até que tudo se encaixe no lugar.
Os primeiros episódios podem dar a impressão de uma história à deriva, mas o escritor Peter Harness (McMafia) sabe exatamente o que está fazendo aqui. O momento eureka, quando chega, é uma revelação impressionante que envia ondas semelhantes a dominós de volta à primeira cena do show, dando instantaneamente sentido ao que veio antes. É uma jogada arriscada, mas que compensa, resultando em uma corrida inebriante que vale a pena esperar. Bastam alguns episódios para chegar lá.
Noomi Rapace nos mantém sob controle o tempo todo, sua performance é uma bola de confusão frenética e pânico mal contido. Mas são as irmãs Coleman que realmente brilham, emprestando a Alice uma aura de tristeza profunda e uma sabedoria muito além de sua idade. Em meio a todos os emaranhados quânticos e realidades fraturantes, o núcleo de Constelação é o relacionamento entre esses dois personagens. Um vínculo mãe-filha que transcende o tempo, a realidade e os espaços intermediários.
Inicialmente desconcertante, às vezes enlouquecedor, mas no final das contas brilhante. Vale a pena perseverar neste thriller de ficção científica pensativo e alucinante.
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