A ansiedade e a depressão foram apontadas como os principais problemas que preocupam a juventude, conforme aponta a pesquisa “O que pensam os jovens brasileiros”, realizada pelo Centro de Estudos SoU_Ciência, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com 1.034 entrevistados de 18 a 27 anos. Esses transtornos foram mencionados por 38% dos jovens, ocupando a primeira posição no ranking de suas preocupações.
O consenso sobre a gravidade da ansiedade e da depressão atravessa diferentes segmentos da população jovem. Para os de esquerda ou de direita, homens ou mulheres, jovens de maior ou menor renda, católicos, ateus ou evangélicos, brancos, negros ou pardos, universitários ou não universitários, para trabalhadores em todas as condições, jovens de todas as regiões do país – este é o maior problema dos jovens, segundo eles mesmos.
Para Pedro Arantes, professor da Unifesp e coordenador da pesquisa, “essa elevada preocupação dos jovens com problemas de saúde mental é um fenômeno de origem multifatorial que indica uma grande necessidade de estudos mais aprofundados”. Contudo, ele aponta que já é possível considerar aspectos como insegurança e incertezas em relação ao mundo do trabalho, exposição à violência urbana e objetivos por uma vida de sucesso. “Há também questões de podem vir das novas tecnologias, como a hiperexposição em redes sociais, bullying digital e riscos de cancelamento, por exemplo”.
RELIGIÃO, RAÇA/COR E ESTUDANTES
Apesar de generalizado, os índices de preocupação variam de acordo com o perfil dos entrevistados. Mulheres apontam esses transtornos de saúde mental mais frequentemente que homens (43% contra 32%). Jovens da classe AB mencionam o tema com maior frequência (42%) em relação aos da classe DE (33%).
Entre as categorias religiosas, os evangélicos apresentaram o maior índice de preocupação com ansiedade e depressão, com 44%, enquanto jovens de religiões de matriz africana demonstraram menor preocupação relativa, com 29%. Quanto à cor ou raça, brancos destacaram-se com 42%, seguidos por negros (40%) e pardos (37%). Já os jovens amarelos foram os que menos mencionaram o tema, com 30%.
Os dados também indicam que a saúde mental é uma preocupação maior entre os universitários. Entre eles, 51% mencionaram ansiedade e depressão como os principais problemas, contra 32% dos que não estão no ensino superior. O espectro político também influenciou as respostas: 50% dos jovens que se identificam com a esquerda ou centro-esquerda indicaram a saúde mental como prioridade, enquanto entre os de centro, o índice foi de 28%.
CELULAR E DROGAS
Além de ansiedade e depressão, outros temas relacionados à saúde mental também cresceram em importância entre 2021 e 2024. O vício em celular, redes sociais e games teve um aumento de 41% no período, passando de 17% para 24%, sendo apontado principalmente por mulheres (27%), jovens de classe AB (27%) e estudantes de universidades privadas (29%). O consumo de drogas, por sua vez, foi identificado como um problema relevante por 22% dos jovens, com destaque entre os de classe C (30%) e jovens com ensino superior completo (34%).
A comparação entre 2021 e 2024 revela mudanças nas prioridades da juventude brasileira. Em 2021, os principais problemas apontados pelos jovens eram o desemprego e trabalho precário (44%) e a falta de perspectiva de futuro (33%), que agora caíram para 23% e 22%, respectivamente, ocupando a quarta e a quinta posições no ranking de 2024.
Entre os jovens desempregados, o desemprego ainda lidera como o principal problema, sendo mencionado por 31%. Contudo, mesmo entre este grupo, a ansiedade e a depressão aparecem em segundo lugar, com 29% das menções. A saúde mental também é um tema destacado entre trabalhadores autônomos, MEIs e PJs (41%).
As variações regionais na percepção de ansiedade e depressão como problema são discretas, mas existem. Em geral, a preocupação é levemente maior em regiões urbanizadas e com maior acesso à educação. No entanto, o levantamento destaca que o tema é relevante em todas as regiões do país.