Atitude do parlamentar provocou constrangimento no plenário; em razão da data especial, trabalhos eram presididos pela deputada Maria do Rosário
No Dia Internacional da Mulher, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) usou a tribuna da Câmara para criticar o feminismo e acabou entrando em polêmica ao mencionar mulheres transsexuais durante seu tempo de fala. A atitude do deputado foi apontada como transfobia por parlamentares e provocou constrangimento na sessão que, por causa da data especial, era presidida pela deputada Maria do Rosário (PT-RS).
Usando uma peruca loura, ele se apresentou como “deputada Nikole” e, em tom de deboche, criticou o movimento de direitos das mulheres, disse que estão perdendo espaço para homens que se sentem mulheres, e defendeu que elas “retomem a feminilidade concebendo filhos e casando”.
— Hoje, dia internacional das mulheres, a esquerda disse que eu não poderia falar porque eu não estava no meu local de fala, então eu solucionei esse problema aqui. Hoje, eu me sinto mulher, deputada Nikole — disse, colocando na cabeça uma peruca loura.
Durante discurso na tribuna, o parlamentar mineiro afirmou que o feminismo “exalta mulheres que não fizeram nada pelas mulheres”. O deputado propôs que as mulheres tenham outra postura.
— Mulheres, retomem a sua feminilidade, tenham filhos, amem a maternidade. Formem a sua família, porque é dessa forma, vocês colocarão luz no mundo e serão, com certeza, mulheres valorosas — afirmou.
Nikolas declarou que o lugar das mulheres está sendo roubado por homens que se sentem mulheres.
Ao final do discurso, Maria do Rosário evitou citar nominalmente o parlamentar e pediu aos colegas uma “sessão respeitosa” por conta da data especial para as mulheres.
— Eu peço licença aos senhores, eu não concederei o microfone de aparte neste momento. Porque eu não quero este plenário no dia 8 de março com dificuldades. Eu quero que vossas excelências respeitem essa presidência. Eu concederei o microfone de apartes exclusivamente, para as mulheres. Porque o objetivo dessa sessão, é que elas usem da palavra — completou.
A sessão da Câmara nesta semana teve destaque para pautas voltadas às mulheres e foi presidida interinamente por deputadas. A Casa, que tem quase 200 anos de existência, nunca elegeu uma mulher à presidência. As mulheres são 51,1% da população brasileira, mas na Câmara, elas apenas ocupam apenas 91 cadeiras, isto é, 18% do total (513 assentos). O Senado e os ministérios da Defesa, da Justiça e das Relações Exteriores também nunca foram comandados por mulheres.
A deputada Tabata Amaral (PSB-SP) relatou que vai entrar com pedido de cassação do deputado pela fala transfóbica. A bancada do PSOL também anunciou que apresentaria pedido de cassação do parlamentar e notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal (STF).
— Estamos falando de um homem, que no Dia Internacional da Mulher, tirou o nosso tempo de fala para trazer uma fala preconceituosa, criminosa, absurda e nojenta. A transfobia ultrapassa a liberdade de discurso que é garantida pela imunidade parlamentar. Transfobia é crime no Brasil — apontou.
Nikolas retrucou:
— Não precisa ter mais diálogo. Tudo agora é cassação.
À noite, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), publicou em redes sociais uma “reprimenda pública” a Nikolas: “O Plenário da Câmara dos Deputados não é palco para exibicionismo e muito menos discursos preconceituosos. Não admitirei o desrespeito contra ninguém. O deputado Nikolas Ferreira merece minha reprimenda pública por sua atitude no dia de hoje”, escreveu.
— Arthur Lira (@ArthurLira_) March 8, 2023