Reeleição ameaçada, vereador tenta mostrar preocupação com usuários do transporte coletivo
Alguns problemas cruciais da população campo-grandense estariam resolvidos se não fossem a omissão e o descaso de pessoas que ignoram as suas responsabilidades, principalmente quando afetam a vida de toda a sociedade. É o caso do sistema de transporte coletivo, cujo caos poderia ser evitado se a Câmara Municipal exercesse seu papel na fiscalização do serviço e usasse o seu poder político e institucional para mudar o cenário deprimente desta concessão.
Um dos defeitos gritantes do sistema é o atraso dos ônibus, por causa da falta de planejamento e da má distribuição das linhas. E como se estivesse inspirada por esse grave defeito, a Câmara também chega com atraso na tentativa de intervir, por meio de uma sugestão formulada pelo vereador Júnior Coringa (PSD), propondo a privatização dos terminais. Ele age como se a crise do transporte coletivo é nova e procura fazer a média com os mesmos usuários cujo sofrimento vinha ignorando.
Só agora, depois de vários anos defendendo com seus parceiros de bancada a desastrosa gestão do correligionário Marquinhos Trad, na qual as concessões foram reforçadas a peso de ouro e o serviço piorou, é que Coringa e outros vereadores entram em cena como se estivessem de fato preocupados com a população. Talvez ignorem que a população conheça as causas deste repentino interesse: daqui a três meses vai começar o ano eleitoral e o desejo de poder, com a reeleição, fala mais alto.
AÇÃO E OMISSÃO
Honrosas exceções não compõem o grupo da Câmara que nestes últimos anos vem se omitindo dos problemas básicos que a cidade enfrenta. Enquanto o mandato da grande maioria viveu e continua vivendo em sono profundo, distante dos escândalos que afetam os seus interesses, outros se preocupam de verdade com a delegação confiada pelo povo.
Marcos Tabosa (PDT), Professor André Luís (Rede) e Luiza Ribeiro (PT) não se calaram e nem se esconderam quando servidores públicos, professores e usuários do transporte coletivo precisaram de apoio – porém, apoio de minoria não altera o jogo de interesses políticos e pessoais conduzido pela Mesa Diretora em prol da maioria.
E foi no arrastar do tempo que a Câmara pôs seu peso na balança para favorecer as concessionárias – leia-se Consórcio Guaicurus -, em detrimento das centenas de milhares de pessoas dependentes de um serviço feito como se fosse um favor e muito ruim: a frota roda com vários ônibus de uso comprometido, veículos sem ar condicionado, condutores sobrecarregados por duas funções (motorista e cobrador), superlotação, atrasos, má distribuição de linhas, insuficiência de pontos, terminais sem manutenção e passagens com o valor elevado diante do desconforto e do transtorno causado aos passageiros.
Coringa está dizendo que o contrato entre o Consórcio Guaicurus e a prefeitura não está sendo cumprido. Isto é um fato antigo, que toda a cidade conhece há vários anos, inclusive desde que o vereador se elegeu e passou a ter lugar com voz e voto no Legislativo. Quando Marquinhos era o prefeito, Coringa não moveu uma palha para cobrar o cumprimento do contrato. E hoje ele faz uma intervenção pontual, cobra as empresas pela manutenção dos terminais, porém esquiva-se das demais responsabilidades que também não estão sendo assumidas.
Privatizar terminais, por si não vai resolver os diversos problemas do transporte. Coringa e os que defendem tal ideia sabem disso, contudo não querem aprofundar a busca de causas e soluções, porque existe uma antiga e sólida blindagem na concessão para proteger os que dela se beneficiam, direta e indiretamente. Não é por acaso que ao longo de todos estes anos a maioria dos mandatos da Câmara Municipal vem barrando propostas como a abertura da CPI do Consórcio Guaicurus, defendida pelo vereador Marcos Tabosa, e dois projetos que criavam o Conselho Municipal de Usuários do Transporte Coletivo, de autoria da vereadora Luíza Ribeiro.