Tudo começou com Bernal, continuou com Olarte, foi reforçado por Marquinhos e coroado por Adriane
Qualquer pessoa que fizer uma análise sobre as piores gestões que Campo Grande já teve, basta um olhar no retrovisor para constatar que os desastres políticos, administrativos e éticos começaram há pouco mais de 11 anos. E sempre pelas mãos e cabeçadas de duplas que se revezaram no poder: primeiro, com Alcides Bernal e Gilmar Olarte; depois, Marquinhos Trad e Adriane Lopes.
Dia 1º de Janeiro de 2013 – O prefeito Alcides Bernal (PP) e o vice-prefeito Gilmar Olarte (PP) iniciam sua gestão. Ambos desfiando apelos religiosos e cobrindo a mídia com promessas solenes e grandiosas, como a de dar à cidade a maior, a mais moderna e mais realizadora administração de sua história. Em um ano de poder nada disso havia sequer iniciado e surgia a referência nada agradável de “capital dos buracos”. Dia 12 de março de 2014 – Por 23 votos a seis a Câmara Municipal acolhe denúncias de irregularidades em contratos da prefeitura, decide afastar Bernal e dar posse ao vice.
Dia 13 de março de 2014 – Um dia após Bernal ser cassado, Olarte toma posse e afirma: “Como membro do PP venho, em nome do partido, pedir perdão à população de Campo Grande. Quando fomos às ruas numa disputa democrática legítima, sonhamos um sonho especial para o povo. Infelizmente neste um ano não conseguimos cumprir o que foi proposto na campanha. Em nome do Partido Progressista estamos aqui para dizer que vamos fazer uma cidade administrada com real humanidade, com carinho e amor. Pelo PP, este sonho não acabou”. Não acabou mesmo – porque nem sequer havia começado.
Dia 25 de agosto de 2015 – Quando passava de 17 meses do seu afastamento, a Justiça afastou Olarte, convencida que ele só assumiu graças a uma armação para derrubar o titular, envolvendo vereadores e empresários ligados ao ex-governador André Puccinelli (MDB). Então, o ato da cassação de Bernal foi anulado e ele voltou ao poder. Dia 15 de agosto de 2016 – Olarte é preso, acusado de comandar um esquema milionário de doações para irrigar campanha eleitoral. E no dia 08 de setembro, ainda na cadeia, apresenta sua renúncia ao cargo.
SEMI-DESTRUIÇÃO
Quando terminou a gestão da dupla Bernal-Olarte, em dezembro de 2016, Campo Grande era uma cidade semidestruída. Os buracos nas ruas da cidade haviam aumentando, assim como caiu drasticamente o nível da rede de serviços, além de obras inacabadas e dívidas acumuladas nos cofres de uma prefeitura inadimplente. O PP de Bernal e Olarte – o mesmo PP de Adriane Lopes – deixava uma herança maldita a seus sucessores.
Dia 1º de janeiro de 2017 – Com grande festa e pomposos discursos, a dupla Marquinhos (ainda no PSD) e Adriane (ainda no Patriota) tomam posse da prefeitura. Não faltaram promessas empolgadas. Fariam da cidade um paraíso. Gabavam-se, inclusive, da força financeira do município e dos projetos inovadores que realizariam para fazer o povo esquecer que um dia foi governado por Bernal e Olarte.
Num primeiro momento, graças às iniciativas e investimentos dos governos estadual e federal, saíram belos e sorridentes nas fotos diante de obras como a revitalização de avenidas, como a Via Park, e intervenções no miolo urbano da Capital, com o Reviva Centro. Este é um projeto custeado pelo Bird (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e foi ressuscitado pela bancada federal.
Entretanto, sem este reforço, muito pouco em obras a gestão local tinha para mostrar – enquanto isso, a prefeitura era transformada em um reduto eleitoral a serviço de Marquinhos e Adriane, esposa do deputado estadual Lídio Lopes.
Em janeiro de 2021, reeleita, a dupla tratou de levar adiante o plano de perpetuação no poder. Marquinhos pôs na cabeça que seria governador, minimizou o apoio e a parceria que o Estado lhe dava com as mais diversas obras e montou sua trincheira no Paço Municipal. Para montar o seu curral eleitoral e abastecer a campanha, montou esquemas oxigenados pelo cofre público. Um deles foi o Proinc (Programa de Inclusão Profissional), que com recursos da prefeitura recrutava geralmente jovens para atividades laborais em troca de um salário.
Mas o programa virou caso de Polícia e o escândalo explodiu, pois o Ministério Público revelou que o Proinc de Marquinhos estava pagando para funcionários-fantasmas, microempresários, influencer, pessoas com posses e até um indivíduo acusado de pertencer ao PCC. Os serviços sob responsabilidade da prefeitura pioravam a cada dia, mas o prefeito estava obcecado pela candidatura ao governo e a vice pela prefeitura.
ELOGIOS AO PARCEIRO POLÍTICO
Dia 1º de Abril de 2022 – Marquinhos entrega à Câmara sua carta de renúncia ao cargo de prefeito e fica livre para concorrer ao governo. Três dias depois Adriane pegou as chaves da prefeitura. Emocionou-se ao frisar que faria uma gestão histórica como primeira mulher que as urnas fizeram prefeita na história da Capital. Corajosamente, na posse ela elogiou seu parceiro:
“Tivemos uma equipe preparada, pessoas dispostas, e vencemos a primeira eleição. Em quatro anos, revivemos a cidade. Agora, nessa segunda oportunidade, estamos com um plano de governo com mais de 47% executados. Nossa gestão foi pensada e planejada ouvindo as pessoas, olhando em seus olhos, e assim temos feito”. Esta conversa Adriane conseguiu levar durante cerca de um ano. Porém, quando a revolta do povo se intensificou, gente começou a morrer ou passar mal na fila do posto, carros atolando nas ruas, prefeitura devendo empresa de ônibus e transporte coletivo ameaçado, aula atrasando por causa de obra inacabada e contas no vermelho, agora diz que o problema não é seu e que herdou. Sim, é herança – herdou de si mesma.