Ex-senador, condenado em auditoria contábil por ocultar R$ 380 mil do Imposto de Renda, é pré-candidato a prefeito
Ao menos por enquanto, os dias de glória e projeção positiva na vida pública de Delcídio Amaral estão restritos ao acervo das recordações. Sem o brilho de antes, mas vestido com a mesma roupagem de superioridade que o adorna desde seu ingresso na política, o ex-senador do PT agora comanda a Executiva Estadual do PRD (Partido Renovação Democrática), oficializado em 2023 após a fusão do Patriota com o PTB.
Livre dos desgastes que levaram à cassação de seu mandato em 2016 por violação ao Código de Ética e quebra do decoro parlamentar, absolvido da acusação de ter tentado obstruir as investigações da Justiça na Operação Lava Jato, ele vive o momento de maior desafio de sua trajetória: retornar à cena política, “por cima”. Para isso, reduziu o tamanho de suas ambições e voltou a morar em Corumbá, sua cidade natal, para candidatar-se a prefeito.
Um de seus colaboradores mais próximos nesta empreitada é o ex-deputado estadual corumbaense Evander Vendramini, enfileirado no bloco da direita bolsonarista. Com a frustrada tentativa de reeleição, Vendramini deveria ser candidato a prefeito. Porém, a chegada de Delcídio o fez mudar de rota e aproximar-se do PRD como segunda estrela na constelação que o partido quer formar no município.
O próximo passo de Delcídio é abastecer a legião de forças dentro do seu projeto. Para isso, está atraindo o grupo do prefeito Marcelo Iunes, já dissidente do PSDB-MS. A cúpula e a militância dos tucanos, cientes dos desgastes acumulados de Iunes, rejeitaram a pré-candidatura do secretário municipal de Governo Luiz Antonio Pardal, o preferido do prefeito.
Assim, a Iunes não restaria outro caminho a não ser o de buscar outro partido e levar Pardal consigo. No PRD, o ex-senador e o prefeito, somados nos itens positivos e negativos, terão a oportunidade de saber dos eleitores da Cidade Branca a quantas anda o prestígio ou o descrédito de cada um.
SONEGAÇÃO
Ao esconder da declaração do Imposto de Renda ter recebido R$ 380 mil de seu primo, Delcídio Amaral, a auditora do Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul (TCE/MS), Silvana Amaral Albaneze de Oliveira Martins, foi condenada pelo crime de sonegação fiscal. O repasse só foi descoberto quando os investigadores da Operação Lava Jato analisaram informações levantadas graças à quebra de sigilo bancário do ex-senador.
A denúncia do Ministério Público Federal sustenta que a servidora do TCE/MS levou versões diferentes à Receita para justificar o recebimento daquela quantia. A defesa da auditora rebate, assegurando que não houve a tentativa de iludir a fiscalização da Receita, muito menos a apresentação de versões diferentes para informar o motivo do repasse, que seria por conta de uma transação imobiliária entre familiares.