Candidata à reeleição, Adriana Lopes detona cofres da prefeitura para beneficiar afilhados
Contra fatos, não há argumentos – isto para quem só trabalha com a verdade e a transparência. Mas para quem anda na contramão desta via, só restam as respostas do Tribunal de Justiça – que pode tardar – e das urnas, e nesta, que tem horas marcadas, o eleitor não demora e não falha.
Este encontro com a justiça dos homens deve estar preocupando a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), que quer a reeleição e para isso precisará convencer os eleitores que mercê o seu voto e sua confiança. Vai passar por uma acareação com a realidade quando a campanha chegar às ruas e aos debates, momentos em que será cobrada a prestar contas do que fez, do que não fez e do que escondeu no exercício do cargo.
Há vários questionamentos, que vão do abandono dos bairros e da tragédia imposta aos pacientes do SUS nos postos saúde à gastança que pôs o município no abismo financeiro. Mas a prefeita precisa ser verdadeira e justificar também porque inventou uma “folha secreta” e utiliza os cofres públicos para bancar decisões sob suspeita. Neste capítulo, estão incluídos o empreguismo – com “direito” ao nepotismo -, o esculacho com as contas da prefeitura e as obras inacabadas, pelas quais teve que devolver dinheiro liberado pelo governo federal e até utilizado em parte.
No escândalo do empreguismo político, a prefeita seguiu o (mau) exemplo de seu parceiro de chapa, o ex-prefeito Marquinhos Trad, que inventou um cabide de empregos dentro do Proinc para abrigar amigos e apoiadores. Ela não esqueceu nem o nepotismo, nomeando em 2022 a Sra Thelma Fernandes Mendes Nogueira Lopes. Trata-se da esposa de Osvaldo Nogueira Lopes, irmão do deputado estadual Lidio Nogueira Lopes, por incrível coincidência marido de Adriane.
Certamente dotada de extrema competência e sem qualquer forma de influência pelo parentesco, a concunhada entrou na lista de gordos holerites da prefeitura com salário bruto de R$ 17.369,58. A nomeação foi feita para desempenhar o árduo e complexo cargo de chefe de gabinete de Adriane. A propósito: antes da chefia de gabinete, a cunhada de Lídio e concunhada de Adriane era adjunta da Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS) desde 2018, com salário de R$ 15.148,35. Outra coincidência incrível: a “promoção” aconteceu exatamente quando Adriane assumiu o cargo em substituição a Marquinhos.
GASTANÇA E FOLHA
O caso da “folha secreta” seguramente será um dos temas polêmicos da campanha eleitoral. Há muitos detalhes que ainda precisam ser revelados e esclarecidos, como o papel subserviente dos vereadores adrianistas. Tudo começou quando se noticiou a existência de um documento utilizado para lançar gastos do Executivo, geralmente com a folha de pessoal, sem passar pelo olhar refinado e minucioso do Portal da Transparência.
O escândalo explodiu. Para minimizar o impacto e acalmar as reações reprovadoras, Adriane enviou à Câmara um projeto de lei para legalizar a “folha secreta”, aumentando os gastos do município com pessoal. Com isso, afrontou o Tribunal de Contas (TCE/MS), com o qual havia firmado um Termo de Ajustamento de Gestão, comprometendo-se a reduzir drasticamente os gastos que faziam um grande rombo fiscal no município.
Enquanto os vereadores de Adriane faziam vistas grossas e se acumpliciavam ao desgoverno, a população reforçava sua indignação e os servidores protestavam. “O que a prefeita busca com o projeto é aplicar um verniz de legalidade às folhas secretas”, disse na época o advogado Márcio Almeida, representando os sindicatos do funcionalismo público.
O ROMBO
Diversos demonstrativos oficiais atestam que Campo Grande vem sofrendo na gestão financeira um estrago sem precedentes. O anuário MultiCidades/Finanças dos Municípios do Brasil, elaborado pela Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP), informou que em 2022 os gastos da prefeitura com a folha salarial só não foram maiores que os de Goiânia (GO). Enquanto a capital goianiense gastou R$ 3,35 bilhões com o funcionalismo, Campo Grande registrou R$ 2,66 bilhões em despesas com pessoal.
Em fevereiro deste ano, ao prestar contas aos vereadores sobre as finanças do terceiro quadrimestre de 2023, Márcia Helena Hokama, a secretária municipal de Finanças e Planejamento, informou os números. Disse que as receitas no período passaram de R$ 5,3 bilhões em 2022 para R$ 5,6 bilhões em 2023, incremento de 6,01%. E que os desembolsos com pessoal consumiram 55,2% dos recursos da Prefeitura – o limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal é de 51,30%. Em 2022, esse índice era de 57,02%.