Nos bairros, população abandonada chama ciclo “Marquinhos-Adriane” de “Hora do Pesadelo 11”
Em abril de 2022, quando assumiu definitivamente o principal cargo político de Campo Grande, Adriane Lopes fez um belo e solene discurso na Câmara de Vereadores. Depois de rasgar elogios a Marquinhos Trad, seu companheiro político e de chapa, ela apresentou compromissos ambiciosos que fariam de seu mandato a gestão dos sonhos dos campo-grandenses.
Já se passaram 2,2 anos e aquelas promessas continuam vazias. Nos bairros abandonados, a “gestão dos sonhos” já é chamada espirituosamente de “A Hora do pesadelo 11” – esta dezena é o número do PP, o partido ao qual Adriane se filiou para tentar se reeleger. Esta é a obsessão da vez: a busca por mais quatro anos de poder é tão alucinante que as lógicas mais elementares da ética, da responsabilidade e da governança foram atiradas no lixo.
Além do caos no atendimento da saúde pública, com funcionários sofrendo boicotes salariais e gente morrendo ou passando mal nas filas, entre outros transtornos; da periferia maltratada nas chuvas e na estiagem; da gastança com super-salários para poucos privilegiados e escoamento suspeito de verba pública em folha secreta, a coleção de maus exemplos é fértil. Não há intervalo: a cada semana ou mês, os casos de desgoverno não param, como se pode constatar a seguir.
FARRA NO PAÇO
Folha secreta e salários de marajás para os “comissionados” do círculo de elite não são suficientes para sangrar os cofres públicos. Há certos negócios que exigem, no mínimo, uma boa e plausível justificativa. Um desses casos é o aluguel de um imóvel para o Ceam (Centro de Atendimento à Mulher (Ceam) e o Centro Especializado Infantil (CEI). Iniciado em setembro do ano passado, o aluguel custa aos cofres da prefeitura R$ 45 mil/mês – ou R$ 540 mil ano.
A questão é que este valor está contratado junto a uma empresa, a Holding CSJ Empreendimentos Ltda, cujo registro só foi aberto seis dias depois da inauguração do Ceam. O “arranjo” contratual a toque de caixa esmerou-se nos atrasos: o aluguel foi firmado no vap-vupt, sem licitação, com dispensa (inexigibilidade) atestada em dezembro (três meses depois da inauguração). Se 2023 acabou, tem 2024 e mais atrasos para ajustar: só em janeiro, com o Ceam aberto desde setembro, é que a formalização do contrato foi fechada.
CASTELOS DE AREIA
A menos de seis meses de terminar seu mandato, Adriane Lopes promete mundos e fundos mesmo sem convencer a população que vai fazer e entregar algumas obras de grande porte até 2025, como prometeu no caso do Hospital Municipal. Para cumprir uma agenda eleitoreira, a prefeita mantém abastecido o estoque de promessas. Uma delas é a reforma do Terminal Rodoviário Heitor Eduardo Laburu.
A antiga rodoviária já passou por maquiagens, porém a gestora “dos sonhos” garante que resolverá o que já deveria ter resolvido e não resolveu, porque sua revitalização, iniciada em julho de 2022, vai completar dois anos esta semana com apenas 20% do projeto executados. Era para ser entregue em junho de 2023. E recurso para o custeio, mesmo sem faltar, parece insuficiente.
A reforma foi orçada em 16,5 milhões. Com o primeiro aditivo, saltou para R$ 17,4 milhões. Vieram ainda mais dois aditivos, resultando num total de R$ 18,5 milhões, engordando o custo inicial em cerca de R$ 2,5 milhões.
Tem mais no rosário de sonhos da prefeita: Lançado em 2023, o Parque Cachoeiras do Ceuzinho continua somente no papel e nos discursos dos mais crentes. O investimento anunciado é de R$ 9,5 milhões e sua data de entrega seria no segundo semestre deste ano. Por enquanto, em vez de playground, receptivo, quiosques, passarelas, quadras e redários, este belíssimo espaço natural de Campo Grande só pode ser visto nas fotos do lançamento festivo, nas maquetes que o ilustraram ou na inscrição da grande placa coberta de mato.