Urnas são pesadelo de candidatos à reeleição e “cabo eleitoral” em Campo Grande, Dourados e Corumbá
Em Campo Grande, Dourados e Corumbá, alinhados entre os cinco maiores municípios de Mato Grosso do Sul, as eleições para a prefeitura deixaram de ser um confortável sonho de poder e se transformaram em um constante pesadelo, à medida que se aproxima o início da campanha. Por causa de gestões desacreditadas, decisões equivocadas ou denúncias de corrupção e, em consequência, da reprovação popular, o poder de cada um para a abordagem aos eleitores ficou comprometido.
Destas três cidades, dois prefeitos são pré-candidatos à reeleição – Adriane Lopes (PL), na Capital, e Alan Guedes (PP), em Dourados – e um, já reeleito, Marcelo Iunes (PSDB), de Corumbá, serve de “cabo eleitoral” do seu secretário de Governo, José Antônio Pardal (PP). Não há como tirar uma medida capaz de comparar fielmente as chances do trio, mas é visível que todos já enfrentam dificuldades para avançar nas pesquisas de intenção de voto quantitativas feitas até agora.
Para Adriane, o maior desafio será dar ao eleito um discurso sincero, capaz de demonstrar que nada tem a ver com o desastre político e gerencial pelo qual é uma das co-responsáveis. Isto porque continua dividindo com Marquinhos Trad o mandato que iniciaram em 2017 – são quase oito anos que ela tem a caneta e a voz do poder nas mãos, seis deles na condição de vice-prefeita e dois na titularidade do cargo.
O saldo deste período é um dos mais infelizes para o município e a população em toda a sua história. Para resumir, a prefeitura está sob risco de sofrer uma intervenção a qualquer momento, em função do conjunto de desmandos de sua prefeita. Além do caos nos serviços essenciais como a saúde, a educação e o transporte coletivo, Adriane ainda é reincidente na desobediência à Justiça e ao Tribunal de Contas (TCE).
Nega-se a pagar direitos trabalhistas legais dos servidores, inclusive ignorando ordem judicial, e não cumpre o compromisso que assumiu ao assinar com o TCE o Termo de Ajuste de Gestão (TAG) pelo qual faria ajuste drástico nas finanças para reduzir a gastança com salários de cargos em comissão. Campo Grande desceu no conceito nacional de desempenho de gestão pública, caindo dos primeiros para os últimos lugares entre as capitais nos quesitos de transparência, cumprimento de metas e execução orçamentária.
QUEDA E SUSPEITAS
Ao contrário dos primeiros momentos do pós-urnas de 2020, quando surpreendeu os favoritos e venceu a guerra pela prefeitura douradense, Alan Guedes (PP) já caiu da cama na qual sonhava com longos dias de glória. Quer mais oito anos de mandato, porém a meta se distancia cada vez mais, conforme sugerem as amostragens de intenção de voto. Em terceiro, perdendo terreno para o tucano Marçal Filho e o vice-governador Barbosinha, o prefeito necessita de uma saída eleitoralmente milagrosa para se recuperar.
A pesquisa mais recente do Instituto Ranking Brasil com dados de desempenho dos candidatos, mostra que os índices das intenções de voto para Alan Guedes vêm desabando. Na espontânea, em três consultas ele caiu de 12% para 10% e agora está com 7%. No quadro de rejeição, é o líder: saiu de 19,5% para 25% e agora tem 30,2% de eleitores que dizem não votar nele de jeito nenhum. A pesquisa foi feita de 25 a 30 de maio com mil eleitores, tem 95% de confiabilidade, margem de erro de 3,1% e está registrada no Tribunal Regional Eleitoral.
Pior ainda é a imagem negativa que foi desenhada em 2022, quando Guedes foi alvo de suspeição ao tirar dos cofres públicos R$ 17 milhões para pagar a Kit Robótica, uma empresa que vendia produtos com preços superfaturados para as prefeituras. A transação foi divulgada nos meios de comunicação de alcance nacional, como o “Jornal de Brasília” de 13 de abril de 2022, que deu esta manchete: “Aliado de Lira vendeu Kit Robótica 420% mais caro”. O negócio envolvia a empresa e prefeituras com verbas de emendas liberadas pelo presidente Jair Bolsonaro.
DESASTRE
Caóticas, pífias ou desastrosas – qualquer destas três classificações servem para definir os mais de sete anos de Marcelo Iunes na prefeitura de Corumbá. Com a morte do eleito Ruiter Cunha 10 meses após a posse, o vice-prefeito que assumiu o poder prometeu responsabilidade, competência e retidão no exercício do cargo. Garantiu ser a esperança, mas revelou-se uma histórica e retumbante decepção.
Depois de conquistar a reeleição – talvez o seu derradeiro triunfo eleitoral -, Iunes vem juntando sobre si uma vergonha atrás da outra. Ele tornou-se uma espinha atravessada na garganta do PSDB. Perdeu prestígio na legenda, isolou-se numa ilha de perdição ética e gerencial, fazendo da prefeitura um núcleo empreguista, nepótico, financeiramente corrosivo e colocando-a no alvo de suspeitas do Ministério Público e da sociedade.
Iunes fracassou até na tentativa de impor seu secretário de Governo, José Antonio Pardal, como candidato dos tucanos. Para seguir como seu maior “cabo eleitoral” e liderar a campanha, despejou Pardal em outra legenda, já que a direção do PSDB ajustou com o PSB o acordo para formar uma chapa de nomes confiáveis para a disputa – o médico e ex-vereador Dr. Gabriel de Oliveira para prefeito e a professora e ex-deputada federal Bia Cavassa para vice.
(foto 1) Adriane Lopes: na caça de um discurso convincente
(foto 2) Alan Guedes: rolando ladeira abaixo nas pesquisas
(foto 3) Marcelo Iunes: com uma vergonha atrás da outra