Presidente da Casa diz apoiar a prefeita, mas ressalva: “Não somos puxadinho da prefeitura”
A prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), foi à Câmara de Vereadores participar da sessão que instalou o período legislativo e teve que ouvir, diante de autoridades e populares, enérgicas cobranças dos casos que colocam sua gestão sob suspeita. Ela foi questionada pela vereadora Luiza Ribeiro (PT) pela crise fiscal do Município e irregularidades como a “folha secreta” de pagamentos denunciada pela imprensa como um artifício para ocultar o uso imoral de verbas publicas às escondidas.
As duras críticas reverberaram num ambiente que era compartilhado por expressivas lideranças, entre as quais a senadora Tereza Cristina (PP), que é a abonadora da filiação da prefeita ao partido e “madrinha” de sua pré-candidatura à reeleição. Lá estavam também Eduardo Rocha, secretário da Casa Civil; Lourivaldo de Paula, diretor do Tribunal de Justiça (TJ/MS); e Valdo Pereira, presidente da Comunidade Organizada em Defesa de Moradia nas Ocupações Irregulares.
ÚLTIMOS LUGARES
Luiza disse que a sociedade e a oposição esperam de Adriane ações e decisões diferentes do que o Executivo fez nos anos anteriores. Em seguida, cobrou a necessidade de tomar as providências para resolver problemas do município e da sua gestão. “É preciso corrigir a crise fiscal que se arrasta na Prefeitura”, sugeriu. “Faltam medidas que até já foram apontadas pelo Legislativo e Tribunal de Contas para o controle dos gastos públicos. Não podemos permitir que a cidade prossiga ocupando os últimos lugares em rankings que comparam a gestão fiscal das capitais”, completou.
Ao reforçar a cobrança Luiza propôs à prefeita abandonar práticas de contratações de servidores sem concurso para cargos comissionados e de de turbinar os salários com pagamentos não previstos em lei, sangrando as receitas. Para a vereadora, a solução não está em suprimir direitos duramente conquistados pelos servidores de carreira. “A solução é desmanchar aquilo que foi feito e ainda permanece, o que não está amparado por norma legal, ou seja, acabar com os pagamentos ilegais que ficaram conhecidos como folha secreta”.
A vereadora lembrou que no governo Lula o Brasil vive um momento novo na economia, com altos investimentos de recursos federais, e citou que o FPM (Fundo de Participação dos Municípios) atingiu no ano passado o maior volume da história. “Não estamos em tempos recessivos. Por isto, não podemos aceitar crise na administração das finanças de Campo Grande. É tempo de crescer, mas para isso é preciso corrigir o que não está bem na gestão fiscal da Prefeitura”, afirmou.
A petista enumerou outros nichos do desgoverno na Capital. “Faltam medicamentos com regularidade na rede de saúde, a cidade não avançou na realização de exames e cirurgias. Crianças ficam privadas de ensino por falta de vagas na educação infantil, impondo que os pais recorram à Defensoria Pública”, pontuou. Considerou “um absurdo” a prefeita autorizar aumento da tarifa de água e esgoto, a mais cara no país. “Falta investimento na cultura, há muitas obras inacabadas na cidade, não há enfrentamento aos efeitos da crise climática e nem investimento para atrair novos negócios”, concluiu.
CARLÃO
O presidente da Câmara, Carlão Borges (PSB), usou um tom amenizador em seu discurso, porém não ignorou as críticas. Disse que no ano eleitoral o Legislativo não vai misturar as coisas, será parceiro do Executivo e trabalha pelo município, mesmo em ano eleitoral.
“O Legislativo tem muitas pautas, vamos discuti-las e ajudar a cidade. A prefeita tem todo nosso apoio para ajudar a melhorar Campo Grande”, observou, antes de salientar, categórico: “Assumimos um compromisso na eleição e vamos cumpri-lo. O povo está de olho. Quem fica de conversa fiada, as urnas estão aí!”. E reafirmou: “A Câmara não é puxadinho da prefeitura. Somos independentes, mas temos a responsabilidade de fazer o melhor por nossa população”.