Serviço público essencial para a vida humana não oferece reais garantias a quem precisa de assistência
Segundo censo do IBGE, em 2022 Campo Grande tinha 898.100 habitantes. Este número não oscilou muito e serve para o seguinte cálculo: se a rede publica municipal de saúde tem, ao todo, 242 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), a disponibilidade atual seria de um leito para cada grupo de 3.711 pessoas. Diante disso, não é necessário muito esforço ou mais dados para afirmar que o caos está instalado nesta área tão fundamental para as vidas humanas.
O problema, contudo, é a falta de iniciativas do poder publico local para mudar este quadro, sequer com a abertura de perspectivas concretas de melhoras significativas, em lugar de paliativos, improvisos e intervenções de caráter episódico. Se a prefeita Adriane Lopes (PP) recebeu de Marquinhos Trad (PSD), em 2022, uma herança desastrosa nas finanças e no contexto dos serviços essenciais, passados quase dois anos ela também não mostrou um cenário minimamente estimulante. Pouco ou quase nada mudou.
Aí estão sucessivos casos em que se constata a estrutura deficiente – inclusive na atenção básica -, a desvalorização profissional e a ausência de planejamento para garantir atendimento de excelência e não permitir dramas que poderiam ser evitados. De acordo com o CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), quem dependia das vagas públicas para atenção intensiva, só encontraria na Capital esta semana com 165 leitos adultos, 23 pediátricos, 44 neonatal e 10 para pacientes com Covid-19.
Os dramas, muitas vezes, são de acontecimentos com final infeliz, como no caso da assistente social Marcelly Márcia Almeida, 33. Ainda não foi divulgado o laudo oficial com a causa de sua morte. O que se sabe é que na terça-feira, 24, Marcelly sentiu-se mal, com fortes dores no peito, e foi à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Coronel Antonino. Lá, segundo a família e pessoas que testemunharam, ela esperou durante quase duas para receber o atendimento necessário. Mas seu estado piorou e ela veio a óbito.
COBRANÇAS
A população quer mais do que respostas do poder público e cobra providências imediatas e eficazes para que tais fatos não se repitam. O vereador Marcos Tabosa (PDT), 52, ex-presidente do Sindicato dos Servidores Públicos (Sisem), não hesita e afirma: a responsabilidade é da prefeitura e da Secretaria Municipal de Saúde. Ele percorre com frequência as unidades de saúde para aferir a situação e afirma que o atendimento na cidade é desastroso.
Numa das visitas recentes, Tabosa deixou o local indignado, diante do quadro de desmonte estrutural. “Não tem bebedouro, isto num posto que atende um monte de gente sob um calor extremo. Não há compressor na odontologia. Parabenizo os odontólogos, que estão fazendo milagres”, exclamou. O vereador reconhece que a prefeita se esforça, mas não dá as respostas necessárias.
“A Fiotec recebeu mais de 80 milhões de reais para fazer um trabalho que não condiz com o valor mobilizado. Cadê o dinheiro? Cadê resultado? A senhora precisa se posicionar, prefeita, e estou certo que vai fazer isso, é o que a sociedade espera, é o que os pacientes do SUS necessitam, para que as coisas ruins sejam evitadas”, disparou.