Ex-prefeito revira escombros do mandato e aponta Olarte, Tribunal de Contas e MDB entre seus algozes
Em março de 2014 o prefeito campo-grandense Alcides Bernal (PP) perdeu o mandato conquistado com 63% dos votos, derrubando todas as principais forças políticas. Na mira de adversários inconformados e de gente que, segundo ele, queria lotear a prefeitura e montar esquemas para desvio de recursos, Bernal desabafa: “Eu perdi foi para a corrupção, para o dinheiro do esquema deles”.
“Deles”, na leitura de Bernal, refere-se ao seu vice-prefeito Gilmar Olarte, ao MDB de Edson Giroto e André Puccinelli, Ministério Publico e Tribunal de Contas (TCE/MS). Derrubado pelos votos majoritários que o cassaram na Câmara de Vereadores, após denúncias do MPE e várias manifestações desabonadoras do TCE à sua gestão, ele ainda ouviu e viu o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) sugerir que tinha sido alvo de um complô.
Primeiro prefeito a perder o mandato desta maneira na história de Campo Grande, Bernal disse em entrevista ao portal “O Jacaré” que viu o desenho de sua defenestração quando se intensificaram as pressões de apoiadores que queriam tomar as rédeas da administração financeira e política do Executivo e descobriu a trairagem do vice-prefeito. Recorda que para fazer a disputa e depois para montar o governo tentou construir uma coalisão com vários partidos.
Alcides Bernal: ” Eu perdi foi para a corrupção, para o esquema do dinheiro deles”
“Eu atendi todo mundo. Eu imaginei que íamos fazer um trabalho bonito em Campo Grande”, conta, antes de observar que “acreditava piamente” no Judiciário. Já nos quatro primeiros meses de mandato, ele afirma que descobriu atitudes suspeitas de Olarte. O vice-prefeito, pastor evangélico, usou a influência do cargo para tomar dinheiro emprestado e buscou a oportunidade para derrubá-lo e assumir a prefeitura, acusa. E diz ainda que antes mesmo de sofrer a denúncia do MPE constatou que Olarte já estava organizando seu corpo de secretários e assessores.
BOMBARDEIO
Um episódio que houve antes da posse foi então melhor avaliado, segundo Bernal: os vereadores congelaram o IPTU, principal fonte de receita da prefeitura, e reduziram a verba de suplementação de 30% para 5%. Era, às vésperas da investidura, o início do bombardeio, cristalizado pela ação de improbidade assinada pelo promotor Alexandre Capibaribe Saldanha. O MPE cobrava o afastamento do prefeito, negado pelo juiz Amaury Kuklinski, da Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos.
Todavia, o cerco prosseguiu logo em seguida, ainda mais feroz e ampliado. O TCE chegou ao cúmulo de imprensar Bernal na parede por tentar instalar lâmpadas LEDs, mais modernas, na rede de iluminação publica. Por causa disso, o conselheiro Ronaldo Chadid suspendeu a providência e aplicou multa de R$ 100 mil. Outro conselheiro, Waldir Neves, enxergou no processo de suplementação orçamentária indícios de violação da lei. “Era um inferno. Eles usavam a estrutura para desgastar e depois cassar”, conta.
Outra fonte de perseguição, de acordo com Bernal, foi sua luta para barrar e anular esquemas de gestões anteriores, como os contratos bilionários com a Solurb para limpeza publica, favorecendo confrarias do MDB de Puccinelli. A Solurb conseguiu da Justiça o direito de receber da prefeitura os valores que estava cobrando. E quando o pedido de cassação chegou à Câmara, Bernal garante que teve a certeza de estar com seu mandato no paredão.