Os dois rios se juntam em Jardim, mas num ponto distante dos atrativos turísticos
“Primo pobre”, enquanto o Rio da Prata encanta turistas com suas águas cristalinas, um outro rio, menos famoso, mas igualmente vital, clama por socorro. Escondido dos olhos do grande público, o Rio Verde sofre com um grave problema de poluição e degradação ambiental, colocando em risco um dos maiores ecossistemas do planeta: o Pantanal. Os dois rios se juntam em Jardim, mas num ponto distante dos atrativos turísticos.
Quando a lama veio em localidades turísticas, como em 2018, houve forte reação, diante do grave dano ambiental. Mas o rio vermelho, que segue correndo do Verde para o Prata se tornou um problema crônico, que não comove mais ninguém.
“Realmente, o Rio Verde tem um problema grave de mata ciliar, mau uso do solo, assoreamento, processos erosivos. É importante que a gente tenha um olhar para o Rio Verde, que impacta diretamente o Rio da Prata e o Rio Miranda. Alguma coisa precisa ser feita de forma emergencial porque esses danos são muito graves para a bacia do Rio Miranda”, diz biólogo Sérgio Barreto, do IHP (Instituto Homem Pantaneiro).
Os sedimentos que vêm pelo Verde deságuam no Prata e são carregados para o Miranda, rio que enfrenta acelerado processo de assoreamento. Todos estão na região hidrográfica do Paraguai.
Sem uso turístico, longe dos olhos das pessoas, o Verde demorou a ter os passivos ambientais identificados.
“É importante que mostrem como ele se encontra atualmente para que as pessoas tenham ciência que esse rio tem enorme importância para a região. Todos os serviços ecossistêmicos que ele presta para o ambiente e a sociedade. Esse rio merece nossa atenção para ter recuperação mais breve possível”, reforça o biólogo.
Em denúncia levada ao Ministério Público em maio, o Unidos pelo Rio da Prata destaca o problema.
“Verifica-se ainda que tal alteração da coloração no percurso do Rio da Prata após/abaixo o afluente Rio Verde não vem sendo observado, monitorado ou solucionado pelos órgãos de monitoramento, já que não há qualquer notícia ou mesmo atuação visando apuração das razões e circunstancias que tal fenômeno vem se estabelecendo”.
Imagens do mês de abril mostraram o comportamento do Verde e do Prata no período chuvoso.
“Verifica-se que o turvamento das águas persiste mesmo após uma semana da ocorrência da chuva. Isso demonstra que algo muito grave está acontecendo, já que na parte acima do Rio da Prata, antes do encontro com o seu afluente, as chuvas não impactam em nada a coloração da água, mantendo-se cristalina mesmo com chuva, o que não ocorre na parte de baixo do rio da Prata, após receber as águas do afluente Rio Verde”.
A reportagem questionou o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) sobre fiscalização a danos ambientais no Rio Verde e aplicação de multas, mas não recebeu resposta até a publicação da matéria.