Em Vozes e Vultos de Robert Pulcini, quando um jovem casal – Catherine de Amanda Seyfried e George de James Norton – chega pela primeira vez em sua nova casa, uma encantadoramente pobre fazendinha no Vale do Hudson com “vigas históricas”, tudo parece novo e empolgante. Mas Catherine está menos do que emocionada com suas novas acomodações e, mesmo antes que os segredos da casa comecem a borbulhar, o trabalho de câmera intencionalmente alienante nos mostra que ela está certa em ser cautelosa e por mais razões do que ela pode imaginar ainda.
É o início de 1980 e George, tendo terminado recentemente a escola de graduação, mudou-se com Catherine e sua filha para fora da cidade de Nova York para aceitar o cargo de professor em uma Universidade pequena, mas de muito prestígio. Pistas sobre a história sombria da casa dão lugar a percepções de que George está escondendo algo de Catherine; e é mais do que só o destino dos proprietários anteriores.
A trama pode tecnicamente acontecer nos anos 80 – no início da década, longe de um centro urbano – mais ainda assim são os tons marrons, verdes e amarelos dos anos 1970 que prevalecem aqui. Isso combina perfeitamente com Pulcini, que fez um excelente trabalho trazendo beleza sinistra a filmes como em Só Deus Perdoa e Calvário. Todos eles bebem da mesma fórmula criada a base de ângulos amplos e cores saturadas que estão fora de lugar.
Isso é o que define a atmosfera. Os sustos, por outro lado, muitas vezes surgem do anti-susto dessa escola nova do terror que faz o medo apenas estar lá o tempo todo. Você sabe, aquele do tipo em que a câmera segue uma pessoa passando por uma porta onde já tem um espectro simplesmente parado e fixo lá, com o público tendo registrado o choque e a ameaça antes que o personagem. O medo é subjetivo, claro, mas esse tipo de coisa me pega todas as vezes, me deixando com arrepios que duram mais do que o choque de um barulho alto repentino ou o que quer que seja.
E ainda há outra tradição à qual Vozes e Vultos pertence. Catherine tem um distúrbio alimentar, uma pista precoce de que este é um filme que segue os passos de incontáveis outros personagens como em Arraste-Me para o Inferno e O Bebê de Rosemary – onde o horror mais profundo é o de ser uma mulher em um mundo que define você em termos impossivelmente restritivos e punitivos. A mudança de Catherine da cidade para o campo não foi ideia dela; como artista, ela teria preferido estar mais perto de pessoas com pensamentos semelhantes. Mas essa não é a primeira nem a última vez que ela se vê esbofeteada pelos ventos da tradição, cultura e do sobrenatural.
Como é o caso da maioria dos melhores filmes de terror, os fantasmas e espíritos não são realmente os bandidos aqui. Eles são apenas o que dá forma a um mal que já existe no mundo. Nós nem conhecemos todos os habitantes etéreos da casa; e há uma sugestão extremamente intrigante de que George está enfrentando sua própria batalha particular com um demônio diferente daquele que assombra Catherine. Vozes e Vultos pode fazer você se perguntar: o problema é o meu fantasma ou é o fantasma do outro?
5 pipocas!
Disponível na Netflix.