Você conseguiria adivinhar a identidade de um assassino?
Em The Undoing, da HBO, parecem haver tantas soluções possíveis para este enigma que nós nos sentimos jogando Retetive. Não há necessidade de existir um vencedor aqui. Só queremos a resposta. Em qualquer caso, a identidade do assassino é o x da questão; é a verdade.
Foi o Doutor Engomadinho, com algum objeto, no estúdio da vítima/artista? Foi o jovem Riquinho, que não largava a caixa do violino, em uma birra de adolescente? Seria o bilionário Sílvio Santos, com uma cara feia, naquele edifício chique na parte nobre de NY? Até os últimos minutos desse show, eu estava convencido de que o assassino era a Mariana Ximenes com 20 anos a mais, vestindo um casaco verde contra o frio.
Quando vi o trailler de The Undoing, rotulei: “Um drama sobre duas pessoas de grande privilégio, ambos médicos, morando em Manhattan”. Ninguém seria preso, imaginei. Mas ao acompanhar os 6 episódios, felizmente percebi que, mais pessoas estão começando a entender e reconhecer as disparidades de privilégios e talvez a impunidade possa ter fim um dia.
The Undoing tem muito a ver com privilégios: racial, de classe, econômico, educacional, profissional e herdado.
Jonathan (Hugh Grant) é um oncologista pediátrico em um prestigioso hospital de Manhattan, porém quando a artista Elena Alves (Matilda De Angelis) aparece morta, descobre-se que existia um suposto affair dela com o Dr., então ele se torna um presidiário que luta por sua vida como qualquer outro prisioneiro no pátio de uma prisão. Já Grace (Nicole Kidman) é uma terapeuta da saúde mental que aconselha muito bem seus pacientes mas que, parece perder sua própria orientação mental quando também acaba sendo investigada como suspeita do assassinato da tal mulher.
Por causa desse escândalo midiático, ela deixou de trabalhar, e por não poder se manter com um filho ainda criança para criar, Harry (Noah Jupe)), passou a ser muito dependente emocional e financeiramente de seu pai Franklin (Donald Sutherland).
E não ignorem a excelência artística das atuações, do roteiro e da direção.
O poder do desempenho de Kidman é sua capacidade de alternar entre vários eus. Ela é terapeuta, esposa, mãe e filha. À medida que o eixo de orientação de Grace muda com quase cada nova informação que ela recebe sobre a vida secreta de seu marido e os perigos recém-descobertos para ela e seu filho, Kidman comunica as mudanças em Grace por meio de tudo, desde a fala até a linguagem corporal e a aparência. É uma atuação magistral.
Já Grant, para aqueles que pensavam que ele era capaz apenas de uma comédia romântica leve, The Undoing é uma revelação com ele. A série deu a ele a chance de impressionar quem antes não estava impressionado com seu alcance dramático.
E como a cereja do bolo de atuações, Sutherland como o pai rico de Grace, é uma mistura fascinante de amor e ameaça.
Enfim, o resultado de The Undoing pra mim foi, um retrato de um patriarcado em declínio tentando se reunir para uma última batalha em um mundo sério.
5 pipocas!
Em cartaz na HBO.
Se liguem nas reprises.