Sem spoiler, revelo de início que há uma cena em Promising Young Woman (Mulher Jovem Promissora) em que Cassandra (Carey Mulligan), uma barista de 29 anos determinada a endireitar predadores sexuais, está conversando com uma de suas “vítimas”, e ele expressa que ser acusado de má conduta sexual é o “pior pesadelo de um homem’. Ao que ela responde: “E você sabe qual é o de uma mulher?”.
O papo é sobre uma “piada” famosa de Margaret Atwood, uma ativista velada, a qual qualquer jovem que passe tempo suficiente em blogs feministas (o que eu presumo que seja o público-alvo deste filme) se familiariza instantaneamente. Atwood pergunta a um amigo do sexo masculino por que os homens se sentem ameaçados pelas mulheres. “Eles têm medo de que as mulheres riam deles”, ele responde. Mas quando Atwood pergunta às mulheres por que elas se sentem ameaçadas pelos homens, a resposta é precisa: “Temos medo de ser mortas”.
É uma história de fantasia estupro e vingança que nunca usa as palavras “estupro” ou “agressão” ou mesmo “consentimento”; é sobre o que acontece quando o sistema de justiça falha – e a punição fica nas mãos dos sobreviventes ou de seus aliados.
Esse sólido filme de estreia é do roteirista e diretor Emerald Fennell, mais conhecido por produzir a segunda temporada da série de TV Killing Eve. Promising Young Woman destaca os vários tipos de homens que as mulheres modernas costumam encontrar: o cara que conta a você sobre o próprio romance de baixa qualidade enquanto cita Charles Bukowski, o cara que se oferece para dar uma carona para casa ou o cara que insiste que ele é um dos legais.
A galeria de caras idiotas que Fennell mostra será reconhecida por qualquer mulher que saiba alguma coisa sobre o namoro contemporâneo, e seus encontros com suspeitos cafajestes é quase um costume aqui.
De dia, Cassandra leva uma vida pouco ambiciosa. Ela trabalha sem rumo em uma cafeteria com sua gerente e única amiga, Gail (Laverne Cox) e mora em casa com seus pais, que estão claramente preocupados com a forma como sua filha está passando seu tempo livre desde que misteriosamente abandonou a faculdade de medicina anos atrás. E eles estão certos em se preocupar.
Todo fim de semana, Cassandra sai para bares e discotecas, onde finge estar extremamente bêbada, com o objetivo de ser levada para casa por predadores sexuais que percebam a oportunidade. Por quê? Bem, Cassandra quer ensinar-lhes uma lição mas, nunca vemos exatamente como ela faz isso. Pela maneira como ela os registrou em um misterioso caderno, vemos que Cassandra fez isso tantas vezes que seu ato é corriqueiro e ficamos tentando descobrir qual é a estratégia.
Agora quando Cassandra começa a namorar um ex-colega de faculdade de medicina, Ryan (Bo Burnham), o filme começa a se transformar em algo estimulante. Finalmente começamos a entender os motivos de Cassandra fazer isso, permitindo que os riscos dramáticos aumentem, mas de uma forma que faz a parte anterior do filme parecer frívola em comparação. Uma vez que o jogo final da história ficou mais claro, ela mantém os espectadores no limite e no all-in, deixando você francamente grato por vermos como o sistema de justiça está realmente quebrado.
Mulligan interpreta uma dura Cassandra com a determinação controlada de uma mulher que não tem nada a perder, de uma forma que torna o filme uma fantasia sombria plausível. Na vida real, sabemos o que realmente acontece com os homens que cometem o que muitos chaman de “erros de embriaguez” – e como as mulheres que ficam arrasadas por causa dessas ações.
Promising Young Woman é um conto atual que parece, em última instância, catártico de uma forma muito real, mas onde o tom de abertura parece leve demais para a gravidade gritante de seu desfecho.
5 pipocas!