Os 7 de Chicago (The Trial of the Chicago 7), de Aaron Sorkin, estreia em um momento em que a temperatura política nos Estados Unidos está praticamente em ebulição. É baseado no notório julgamento de 1969 em que sete (originalmente oito) réus foram acusados pelo Departamento de Justiça do presidente Richard Nixon de conspiração para incitar a violência na Convenção Nacional Democrata de 1968. Embora Sorkin tenha originalmente escrito o roteiro em 2007, foi inevitável que o filme só agora esteja sendo promovido, como uma imagem espelhada da agitação civil que está acontecendo hoje nos EUA.
Como diretor e roteirista, Sorkin, por vontade própria, foca a essência do filme nas discussões dos seus personagens em um espaço confinado e escondido em Chicago, como em seu sucesso da TV: The West Wing. Seu novo filme prende bastante, pois corta a burocracia dos procedimentos do julgamento – incluindo documentários de época e flashbacks dos confrontos de rua entre os manifestantes, a polícia e a Guarda Nacional – e mira sua essência na ação, por isso suas melhores cenas acontecem dentro do Tribunal Distrital de Chicago.
Sorkin transforma o famoso teatrinho político em uma vitrine para um grupo heterogêneo de réus manifestantes, entre eles, Jerry Rubin (Jeremy Strong), co-fundador do Partido Radical Internacional da Juventude (Yippies); Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen), outro instigador brincalhão Yippie cujas travessuras no tribunal obviamente são valiosas para a mídia sensacionalista; e Tom Hayden (Eddie Redmayne), co-fundador do grupo, um tanto mais polido, de Estudantes Unidos por uma Sociedade Democrática, que, em meio a essa balburdia de ideologias, se destaca como a única voz da razão.
Quem os defende é o advogado William Kunstler, interpretado por Mark Rylance, que com sua peruca de cabelos compridos aparenta ser, intencionalmente, um hippie aposentado. Já Yahya Abdul-Mateen II interpreta o co-fundador do Black Panther Party, Bobby Seale, cujas explosões de raiva no tribunal levam o nêmesis dos réus, o juiz Julius Hoffman (Frank Langella) a amarrá-lo e amordaçá-lo, eventualmente, para impedir que ele se pronuncie sobre o caso.
Sorkin muitas vezes tenta suavizar e agilizar os procedimentos reais do julgamento.
Algumas das melhores falas do filme foram, de certo modo, escritas para Sacha Baron Cohen (o famoso Borat). Quando, por exemplo, o juiz Julius pergunta a Abbie se ele está familiarizado com o conceito de desacato ao tribunal, sua resposta irônica é: – Isso é praticamente uma religião para mim, senhor. Sorkin “exagera” na alegria grave dentro do tribunal para mostrar que, na verdade, Abbie é o único personagem cuja exibição claramente apoia uma preocupação mais profunda. Tanto que, quando em determinado momento, ele é questionado sobre qual seria seu preço para cancelar a “revolução”, ele responde simplesmente com: – Minha vida.
Claramente Sorkin vê Os 7 de Chicago como um alicerce da dissidência coerente contra governos opressores. Ele também os vê como exemplos – esta é sua versão de um filme de super-herói. Para Sorkin, o protesto é a maior virtude americana. Ele até fecha o filme com o grito de guerra dos manifestantes de Chicago: O mundo inteiro está assistindo.
Este filme vem para confirmar que, mesmo antes da pandemia, as coisas não mudaram realmente para melhor e, os abusos dos direitos civis, injustiça racial e o nepotismo ainda acontecem desenfreadamente. Mas, é claro, existem grandes diferenças em relação àquela época – sem a Guerra do Vietnã, por exemplo, é inconcebível que a contracultura tenha surgido como surgiu.
Os 7 de Chicago expressa o nosso anseio de justiça. Representa a santificação de uma época e de um povo cujo espírito Sorkin vê como nossa única salvação.
5 pipocas!
Em cartaz na Netflix.