Baseado em uma história verdadeira surpreendente e complexa, Burden é um filme que aparece no momento mais apropriado. Depois de George Floyd, a problemática racial nos EUA e no mundo está nos holofotes até hoje e não parece ter fim. No Brasil, o Movimento Julho das Pretas, em sua oitava edição, trás o lema: Em defesa de vidas negras, pelo bem viver.
Em 1996, Michael Burden era um jovem que morava em Laurens, na Carolina do Sul. Ele tinha um emprego como repositor, e estava em meio a demolição e construção do que parecia um estabelecimento comercial comum a principio. E ainda nos é apresentado o seu vínculo intenso e estreito com um homem e a sua família que o criou como seu filho. Como quase todo mundo que ele chamava de amigo, Burden também era um membro totalmente inserido na Ku Klux Klan.
Porém, a vida de Burden chega a uma crise quando ele conhece Judy, uma mãe solteira da qual ele foi encarregado de recuperar uma televisão para ser a garantia de um aluguel atrasado. Os dois entraram rapidamente em um relacionamento, com Judy e seu filho se tornando a família que Burden talvez estivesse desejando a vida toda.
Judy sentia repulsa pelo racismo o qual Burden e seus amigos representavam. Tornou-se óbvio para Burden que ele teria que escolher entre a KKK e seu novo amor. E Burden escolheu Judy. Consequentemente a vida ficou difícil para os dois.
Agora ignorado por seus velhos amigos e ainda sofrendo da desconfiança por parte da população negra da cidade, Burden rapidamente se viu desempregado, despejado de seu lar de aluguel – imóvel que pertencia a membros da Ku Klux, e completamente sozinho.
O resgate de Burden veio na figura menos esperada: a de um pregador batista negro, o reverendo Kennedy, que acolheu ele e Judy em sua própria casa, encontrou um trabalho pra Burden e, eventualmente, inspirou sua renúncia à antiga vida e uma redenção gradual e contínua.
Sem essa escrita forte e um elenco poderoso, um filme como Burden poderia facilmente entrar em colapso com a modinha e o “mais do mesmo” autoconsciente. Porém, o escritor e diretor Andrew Heckler não trabalhou por 20 anos para fazer com que este filme fosse feito a toa. Seu roteiro é basicamente uma coisa inabalável, com muitos momentos em que você fica estremecido com a pura insensibilidade e ignorância que sustentam a pseudo-ideologia da Ku Klux Klan.
Temos aqui Garrett Hedlund como Burden, Forest Whitaker como o pregador Kennedy e Andrea Riseborough como Judy. Além do veterano Tom Wilkinson como o líder Klan singularmente repugnante que criou Burden e que agora planeja abrir um museu Klan na cidade.
Andrew Heckler teve uma formação excepcionalmente forte para dar vida a esta história.
Burden não é perfeito e ocasionalmente prega um pouco mais avidamente pro lado do coral anti-racista. Mas, nesse momento trágico da história americana, pareceu-me um filme válido e convincente que merece ser visto.
5 pipocas!