Novo na Netflix, o filme espanhol Adu é um melodrama épico que une três histórias na África. É o segundo longa do diretor Salvador Calvo que teve sua estréia no drama com o ótimo longa de 2016, Os Últimos das Filipinas, que mostra possuir uma interessante narrativa. Em Adú usa a mesma fórmula.
– Conta logo quais são essas histórias, Pedroka.
Primeiro lhes dou um detalhe. Sem spoiler. Todas as histórias vão se conectar, de um jeito ou de outro; se liguem.
Melilla é uma cidade espanhola situada no Marrocos. Lá Tatou (Emilio Buale) é um dentre muitos numa grande multidão de imigrantes que tentam escalar a cerca da fronteira, ele está preso em um arame farpado e sangrando. Três guardas civis, Mateo (Alvaro Cervantes), Miguel (Miguel Fernandez) e Javi (Jesus Carroza) correm para o local; dois deles escalam a cerca na tentativa de libertar Tatou. Porém uma briga se segue. Miguel bate em Tatou com um cacetete, e Tatou cai para a morte.
Esse é o drama número 1. Lembrem-se da fronteira.
Enquanto isso, um pouco longe dali, existe uma reserva natural nos Camarões, perto de Mbouma. Pelas redondezas, Ali (Zayiddaya Dissou) e seu irmão mais novo Adu (Moustapha Oumarou) andam de bicicleta pelo caminho da selva, mas param quando ouvem alguns tiros. Eles rastejam pelo mato e testemunham caçadores furtivos mechendo em um elefante recém-morto para serrar suas presas e provavelmente vender as mesmas. Os caçadores avistam as crianças e as perseguem porém sem sucesso. Só que a noite, retornam com a intenção de silenciar os irmãos permanentemente. Por sorte, Ali e Adu escapam mas a mãe deles é morta. Começa aí a dura jornada de Adú.
Esse é o drama número 2. Lembrem-se da bicicleta.
Na mesma reserva nos Camarões, Gonzalo (Luis Tosar) fica cada vez mais enojado com as ações dos caçadores. Ele é um preservacionista rico e arrogante que têm direitos sob a propriedade de uma organização de caridade. Quando localiza o elefante morto sem as presas, Gonzalo também acha a bicicleta de Ali e Adu e dá de presente para a sua filha Sandra (Anna Castillo), que talvez tenha por volta de 18 ou 19 anos. As tensões são perigosas entre Gonzalo e os outros guardas florestais, e eles o expulsam do parque. Assim, ele volta para casa em Yaoundé enquanto briga frequentemente com Sandra, que está amarga por causa de seus longos afastamentos como pai.
Essa é o drama número 3. Lembrem-se das presas do elefante.
Com uma investigação e um processo judicial em andamento sobre a morte de Tatou, Mateo pondera se deve dizer a verdade sobre as ações de Miguel ou se mantém sua história combinada. Já Ali e Adu – que talvez tenham 10 e cinco anos, respectivamente – seguem em uma viagem transcontinental em direção a Paris, para encontrar o pai, se escondendo no compartimento do trem de pouso de um avião de passageiros. E Gonzalo está preocupado com a propensão de Sandra a ficar acordada a noite toda usando drogas nas festas.
Assim o filme segue destrinchando as histórias que se conectarão em certo ponto.
Adu é uma versão narrativamente reduzida de filmes como Babel, Magnolia, Crash: No Limite e outros, com várias histórias que precisam inevitavelmente se cruzar.
Teremos aqui também uma performance que vale a pena assistir. De vez em quando, um jovem ator que nunca vimos antes exibirá uma presença considerável na tela com aparentemente pouco esforço. Esse ator é Moustapha Oumarou como Adú. Nosso envolvimento emocional com o filme depende de sua capacidade de transmitir naturalmente emoções simples como inocência e desespero.
Salvador Calvo e o roteirista Alejandro Hernandez não demonstram interesse em inventar profundos sentimentos em Adú sem sentido. Tudo que acontece tem uma razão no destino dele. A história de Adu é a coisa mais eficaz do filme. Está repleto de perigos, separações e ansiedade sobrevivencialista. Inclusive é importante citar que, por sorte, o bem cruza o caminho de Adú. Ele conhece um adolescente fugitivo chamado Massar (Adam Nourou), que cuida dele como um irmão, e sua amizade explode com calor e vibração quando o resto do mundo não lhes oferece nada. Suas aventuras nascem de uma necessidade angustiantes e triste, porém iluminadas por pequenas vitórias. Se os outros dois tópicos da trama tendem a drama, a saga de Adu torna o filme muito mais digno de ser visto.
Adú é um mini-épico maravilhosamente fotografado, pensado e cativante.
5 pipocas!
Em cartaz na Netflix.