Aos poucos, Mike Flanagan está deixando uma marca no gênero terror. Seja em filmes como O Espelho ou Jogo Perigoso, ou em histórias que precisam ser desenvolvidas pela televisão, como A Maldição da Residência Hill, seu trabalho no gênero tem sido notável. Agora ele nos traz uma nova abordagem para uma casa mal-assombrada com a série A Maldição da Mansão Bly.
A voz de Flanagan como criador de histórias de terror está focada na dor do fantasma, na dor da morte e nos pecados dos vivos e dos mortos. O interesse do diretor está na maneira como todos carregamos essas memórias “mortas” nos ombros. Esses exemplos podem ser vistos em pequenas doses em Ouija: A Origem do Mal, nos filmes já mencionados, bem como em Doutor Sono, naturalmente.
O caso desta A Maldição da Mansão Bly, assim como na outra A Maldição da Residência Hill, é semelhante: na história temos uma casa que parece mal-assombrada e uma família que tem comportamentos estranhos. Flora (Amelie Bea Smith) e Miles (Benjamin Evan Ainsworth) são dois irmãos que sofreram com a morte dos pais e que, agora vivem sob a tutela de várias pessoas, a começar pelo tio Henry (Henry Thomas) que nunca pisa em casa. Ele deixa isso para a governanta, Sra. Hannah Grose (T’Nia Miller), o chef e motorista Owen (Rahul Kohli), a jardineira Jamie (Amelia Eve) e a nova babá Dani (Victoria Pedretti).
A primeira coisa que podemos notar em A Maldição da Mansão Bly é que Flanagan continua a apostar e contar com o elenco do outro título. O que mantém o nível de atuação “perfeitamente esplêndido”. Desde o primeiro episódio vemos fantasmas se escondendo pela casa. Passamos a vê-los ameaçadores, como uma figura do presente que não deixa os nossos protagonistas sozinhos nunca, especialmente Dani, que alcança um desempenho extremamente emocional à medida que avançamos na história, até chegarmos a um episódio de partir o coração.
O pecado que Dani carrega é enorme e impossível para ela sustentar sozinha. Na mansão, essa memória torna-se maior e definitivamente mais presente através de um fantasma misterioso com lentes redondas, totalmente iluminado, mas que fica imóvel, como uma figura que não a abandona.
A história então começa a brincar com o tempo: entre o passado e o presente, aprendemos cada vez mais sobre os personagens que habitam a mansão. Esta é uma vantagem para essa série que pode ser vista continuamente, pois é algo de que muitos programas parecem não tirar proveito. Flanagan e companhia usam esses saltos de tempo a seu favor, incorporando pausas focadas num personagem só entre os episódios.
Nisso é que conhecemos o mistério dos acontecimentos com a babá anterior a Dani, Rebecca Jessel (Tahirah Sharif) que confiou, até demais, na pessoa errada: o espertinho Peter Quint (Oliver Jackson-Cohen).
– E porque a casa é amaldiçoada, Pedroka?! Sugiro que assista pra saber, né?
Essa história mede o peso e a carga dos espíritos no submundo, e o que os arrasta e os ancora para continuar no nosso mundo. Não humaniza-se a morte, mas sim o morto, sua dor, sua tristeza e o que o tempo faz à própria memória. Tudo isso será explorado nos seus 9 episódios – incluíndo o motivo de porque a casa é tão maldita. Embora esta seja uma série de terror, A Maldição da Mansão Bly é principalmente um drama melancólico e nostálgico sobre as memórias que nos mantêm presos a nossa mais profunda dor.
5 pipocas!
Disponível na Netflix.