As agressões à dignidade das pessoas são cada vez mais numerosas e mais letais
Um dos maiores sucessos musicais do País, a música ‘Você Também É Responsável’, gravada e lançada em 1971 pela dupla Dom & Ravel, traz uma mensagem das mais importantes. Faz 52 anos e a letra da composição é atualíssima, graças à sua incisiva exortação à sociedade, uma sociedade que hoje se debate com alguns tipos de câncer moral, social e comportamental, entre os quais a exploração, o abuso e a violência sexual contra crianças e adolescentes.
A letra de Dom & Ravel, embora estigmatizada como um elemento de cooperação “cultural” para popularizar a ditadura militar, impõe, acima de tudo, um chamado que serve para qualquer conjuntura, sobretudo quando a sociedade é atropelada por doenças morais, como o abuso da infância. E a música aponta para cada um de nós a provocação e a cobrança sobre nossa responsabilidade.
Sim: prevenir e combater todo tipo de violência – e sobretudo neste caso – não constituem atribuições específicas do poder público ou da ação policial repressiva. A família, o pai, a mãe, o tio, o parente, os vizinhos, os professores, os líderes religiosos, enfim, todo agrupamento humano com a presença efetiva e verdadeira de pessoas de bem, são responsáveis. Não só na educação de berço e escola, mas na formação de valores que se processa nos diversos ambientes da vida.
O 18 de maio é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes, instituído pela Resolução 236, de 2023. A Resolução estabelece a campanha ‘Faça Bonito. Proteja as nossas crianças e adolescentes’ e a flor amarela e laranja como símbolos oficiais do Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes em todo o território nacional, instruindo sobre procedimentos preventivos.
É para toda a sociedade mobilizar-se maciçamente. O poder público já faz o seu papel, haja vista exemplos elogiáveis como o da Polícia Rodoviária Federal em Mato Grosso do Sul. A PRF distribuiu contingente e veículos em vários pontos das rodovias para orientar, informar e, se necessário, reprimir qualquer prática associada aos abusos. Foi uma ação das mais significativas e deve ter inspirado outros segmentos, públicos e civis.
Não há tempo a perder. As agressões à dignidade das pessoas são cada vez mais numerosas e mais letais. A violência com os atos de agressão e assassinato atingindo mulheres, negros e público LGBTQIA+ é tão grave e danosa quanto a exploração e o abuso de crianças e adolescentes por meio do tráfico humano, da violação sexual e da prostituição infantil.
São doenças de dificílimo tratamento, mas têm cura, desde que se utilize o único remédio eficiente: a articulação e a mobilização dos poderes públicos e da sociedade civil, denunciando, fiscalizando, prestando atenção no comportamento, nas diversões e nas formas de relação que mais atraem a população infanto-juvenil.
Podemos ser uma resposta efetiva e positiva ao apelo de inocentes, os mais vulneráveis à bestilidade e à ganância dos assassinos da infância, para barrá-los, e sejamos também a resposta ao apelo na letra de Dom & Ravel. Sejamos responsáveis!