A sessão da Câmara Municipal que era tão aguardada pelos servidores municipais de Campo Grande acabou sendo ingrata. O motivo: se fosse aprovado um projeto do vereador Marcos Tabosa proibindo adicional de gratificação para os comissionados, o Executivo teria uma economia capaz de sustentar melhorias salariais para todas as categorias.
No entanto, a intenção do amplo benefício imaginado por Tabosa esbarrou numa polêmica decisão de colegas instalados na Comissão de Constituição e Justiça, que com seus votos barraram o projeto. No plenário, frustrados, dezenas de servidores que aguardavam a quase certa deliberação a favor de suas reivindicações expressaram contundente revolta.
A decepção ficou estampada fortemente no semblante de quem esperava desfecho diferente. É bem verdade que os vereadores cumprem papéis jurídica e politicamente bem definidos, cada um vota de acordo com sua consciência, sem que transgridam os institutos constitucionais e, obviamente, o bom senso. Não só nesta, mas nas legislaturas anteriores, a autonomia do Legislativo vem sendo discutido, sobretudo em relação ao executivo.
Por isto soou estranha a manifestação indignada do vereador Valdir Gomes logo após a votação. São suas estas benditas palavras: “Tenho vergonha da Câmara ser omissa diante de tudo que acontece. Vergonha de falar que somos vereadores e passar por essa vergonha com os servidores”.
Este sentimento o nobre parlamentar tornou publico na terça-feira, 29 de agosto de 2023. E ele, um colecionador de mandatos, só agora fez esta brilhante descoberta. Eleito em 2016, reeleito em 2020, ele sequer menciona que durante mais de cinco anos acompanhou de pertinho o mandato de seu correligionário de PSD, prefeito Marquinhos Trad.
O vereador que hoje reclama, justa e corretamente, da omissão e da vergonha coladas no poder, naquele período esteve no olho de furacões do Executivo. Viveu, ao lado dos colegas, entre outros episódios, o escândalo do Proinc, um cabide de empregos que o prefeito da época acochambrou com objetivos eleitorais. Era também de envergonhar aquela omissão, que todos viram, o Ministério Publico denunciou e os eleitores julgaram.
Fazer média com eleitores é prática recorrente de quem assume um mandato sem ter a real dimensão do que significa tal delegação. Para quem ocupa uma cadeira de legislador, é fundamental entender que seu mandato pertence à sociedade, não ao Executivo ou a seu chefe, aos quais precisa e tem a obrigação de fiscalizar.
Com raras exceções – e podem ser citados os edis Marcos Tabosa e Professor André -, a omissão de vereadores que envergonhavam os eleitores ontem é a mesma de hoje, existiu no passado e existe no presente. E pelo vai da valsa, é o triste futuro. Portanto, ao criticar agora o que não criticava antes o crítico perde o trem da história e fica sentado à beira do caminho.
Vem aí, em 2024, um novo julgamento. Os eleitores são juízes. E com o arsenal de informações que possuem, são julgadores implacáveis. Que se acautelem e se preservem as exceções, aquelas que confirmam a regra.