Duas grandes verdades se estabeleceram com impactante nitidez durante este período de devastadoras inundações no Rio Grande do Sul. A primeira, certamente a que mais sensibiliza os corações e renova neles as esperanças, é o tamanho imensurável da solidariedade dos brasileiros.
De todas as regiões, pessoas das diversas idades, ocupações, origens e religiões, inclusive ateus e desempregados, sem olhar para cor partidária ou preferência clubista, uniram suas mãos e as estenderam aos gaúchos. Além de segurá-las para o resgate salvador, também serviam para aquecê-las e transmitir a certeza de que nada está perdido e sempre haverá um novo amanhecer.
Contudo, esta certeza não pode continuar sendo ameaçada de forma tão acintosa pela estupidez ou pela insensibilidade do próprio homem. As águas que invadiram mais de 400 cidades, mataram (até agora) 150 pessoas e desabrigaram quase 540 mil, além de afetar as vidas de 2,3 milhões de sulistas, não foram despejadas por decisão de Deus ou dos céus.
Pode ser até que tenha havido um componente natural neste desastre, mas fica demonstrado, cientificamente, a direção errada de mãos humanas que minimizam a Ciência e superestimam a ambição, gananciosamente, ao contribuir direta ou indiretamente com a desfiguração ambiental. A cada área de preservação desmatada para tender à ganância de investimentos sem contrapartida de sustentabilidade, cria-se o desequilíbrio.
No Brasil, e todos sabem disso, um recente mandatário fez pouco caso das mudanças climáticas, chegando a sustentar que isto não passava de conversa fiada. E tinha tanta certeza que desmontou efetivos e sistemas de controle, fiscalização e combate à economia predatória.
Não é deste Brasil e nem destes maus brasileiros que precisamos. Mas dos que fazem como aqueles que saíram do conforto de suas casas e de seus estados para – até arriscando a própria vida – socorrer o povo do Rio Grande do Sul. Na solidariedade bendita do povo e no retrato maldito da economia destrutiva a natureza deixa ao país e ao mundo dois sugestivos exemplos. Sigamos o que cuida da vida.