E se…?
De que adianta agora usar aquela surrada conjunção condicional para encontrar uma possibilidade de vida para vidas e esperanças que morreram sob escombros das próprias casas, lama, pedras e águas no litoral norte de São Paulo?
Se as autoridades responsáveis garantissem condições adequadas e inegociáveis para que o ser humano não habitasse ou vivesse em regiões sob constante risco de catástrofes, tragédias como a que o Brasil está assistindo certamente não aconteceriam. Mas isto é querer demais. Elas, as autoridades responsáveis, não se arriscariam a perder votos com medidas antipáticas, impopulares.
A conjunção condicionadora vale também para pessoas que, embora ciente dos perigos, por esta ou aquela razão se encorajam a morar em um lugar vulnerável a temporais, inundações, desabamento de encostas e outros desastres perfeitamente evitáveis. No entanto, elas só se acomodam sob os morros ou sobre terrenos frágeis porque têm o incentivo exatamente dessas autoridades.
A habitação de risco, qualquer que seja a classe social do morador, só existe por dois motivos: a simples falta de moradia ou a tentação humana. No primeiro motivo, o desespero para ter com facilidade onde morar é o grande impulso. No segundo, a tentação é o gatilho de uma expectativa econômica nem sempre mal-intencionada, porém mal calculada, mal avaliada pelo empreendedor.
Nos dois casos, há leniência da autoridade pública, ou do governo estadual ou da prefeitura, inicialmente, ou do governo federal. Não basta construir casas em áreas seguras para alojar quem sofre por não tê-las. É preciso conscientizar a sociedade sobre o grave risco dessas ocupações.
E não adianta, também, escancarar à exploração imobiliária os locais de poderoso potencial turístico situados num cenário geológico de risco. É o caso da região litorânea do norte paulista, que inclui cidades como São Sebastião, Ilhabela e Ubatuba.
Ainda estão encontrando e procurando mortos e desaparecidos. As lágrimas de dor e de impotência misturam-se com as furiosas águas das inundações e o lamaçal que desce dos morros destruindo residências, pousadas e o que estiver pela frente.
Se as autoridades fossem minimamente responsáveis, minimamente corajosas e minimamente capazes de não jogar para aplausos da torcida, muitas vidas seriam poupadas da tragédia que todo mundo sabia que iria acontecer.