Não poderia ser melhor a notícia sobre uma providência – embora tardia – adotada agora por um poder executivo de Mato Grosso do Sul. E foi o poder estadual que não ficou indiferente a um dos crimes de maior gravidade e desafiadora recorrência no âmbito da política e dos serviços públicos: o assédio.
Antes de tudo, faz-se necessário observar que tanto homem como mulher protagonizam esta malsinada prática. No trabalho, na igreja, nas escolas, nos clubes, enfim, em todos e quaisquer ambientes, o assédio é um comportamento infelizmente normalizado, eis que subsiste um modelo de moralidade nada consistente.
Embora tal prática possa ter como agentes os dois gêneros, a mulher é, tradicionalmente, a maior vítima. A cultura machista e os elementos de poder que nas sociedades, em geral, estão confinadas nas mãos e na cultura do macho, fulanizaram o crime da chantagem sexual e moral.
A Secretaria Estadual de Administração, evidentemente orientada ou autorizada pelo governador Eduardo Riedel, está pondo em cena um grupo de trabalho encarregado de defender as mulheres das investidas abusivas do sexo oposto. O grupo, que é oficializado pelo Programa de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio Sexual e demais crimes contra a Dignidade Sexual e à Violência Sexual e Assédio Moral, vai atuar no âmbito da Administração Pública Estadual.
Não há outra saída, senão acrescentar às medidas de conscientização da sociedade e à intervenção policial e/ou judicial, o cuidado específico que cada segmento público ou civil deve tomar para não permitir que ambientes de convivência humana sirvam de territórios para a atuação dos tarados de plantão.
Não há outras saídas, senão as de vigiar, de monitorar, de controlar, de prevenir e de combater atentamente o abuso que insiste em ser de uso recorrente. Na política e no serviço público é um escândalo atrás de outro e a coisa parece não ter fim. Todo o País sabe do exemplo, mau exemplo, que Campo Grande ofereceu quando várias mulheres denunciaram, com provas, o prefeito Marcos Trad.
Ao trocar o cargo pela candidatura ao governo, o influente político (na época) nem se importou com o tamanho da própria e enlameada cauda moral. Foi desmascarado ao vivo e a cores por toda a mídia. E a sucessão de casos indicava que assediar as mulheres, às quais tratava como pobres e fáceis presas de seu poder, era um hábito prazeroso. Era como um menino que ganha o tão sonhado aparelho de videogame e passa a jogar de maneira febril e continuamente, sem nada capaz de tirá-lo de seu entretenimento.
Resta agora que Câmaras Municipais, Prefeituras e demais poderes constituídos, em todos os níveis, façam como fez o governo de Mato Grosso do Sul. E as mulheres poderão, assim, ampliar suas esperanças por dias de respeito e igualdade, livres dos Marcos Trad e monstros que ainda permanecem de plantão.