Quando se trata de comportamento ou de princípios, não há como dissociar o agente público do agente político – ou, em outra analogia, o gestor com mandato e o candidato ou candidata em busca de votos. Na gestão pública, um dos quesitos indispensáveis e obrigatórios ao seu bom desempenho é a transparência.
São vários os significados inerentes à transparência. Acima de tudo, pode ser traduzida como respeito, espírito público, clareza e limpeza de posturas, autonomia e autoridade para decidir, sem autoritarismo, sem arrogância, sem excesso de autossuficiência.
Na gestão pública, o gestor ou gestora responsável presta contas de seus atos regularmente, mantém a sociedade informada sobre as despesas e os desembolsos do orçamento e compartilha democraticamente as decisões que afetam diretamente a vida de cidadãos e cidadãs. Isto implica também, como guia inegociável, uma relação harmônica, republicana, com a Câmara de Vereadores, na qual as respectivas autonomias estejam preservadas.
Lamentavelmente, os campo-grandenses vivem outra realidade. Ou são governados com regras doutro planeta. Inexiste transparência na gestão da cidade. Inexiste, portanto, respeito às pessoas. Os contribuintes que vêm engordando as receitas esperam a justa devolução desse dinheiro com obras e serviços, mas o que lhes cai no colo e no humor é o segredo misterioso de imorais drenagens orçamentárias encobertas por folhas secretas, nomeações político-eleitorais e agora, como já se denunciou, com contratos suspeitos para investimentos na maquiagem da gestão.
Mil vezes lamentável, histórica decepção: a primeira mulher a sair das urnas para governar a Capital traiu a expectativa que o povo ofertou a ela e a seu parceiro Marquinhos Trad em duas eleições. Erraram, e muito, na primeira; ganharam a segunda chance e capricharam no “errar mais”, deixando alguns serviços básicos em situação caótica. E ainda praticam a propaganda da ilusão, de uma cidade das maravilhas que não existe nem no país de Alice.
Basta sair de casa e constatar o estado deplorável das ruas e bairros abandonados, o tratamento desumano aos pacientes que vão aos postos sem estrutura adequada e funcionários desvalorizados, o depreciado serviço de transporte coletivo e as brechas fatais ao aprendizado no sistema público de ensino, entre outras “pérolas”. Tudo isso, e mais, com o aval subserviente e festivo de uma Câmara de Vereadores refém do poder, cuja biruta balança ao sabor do vento soprado pelos interesses de uma gestora obcecada por mais quatro anos de mandato.
É neste panorama que se desenrolarão os debates entre os rivais da sucessão em Campo Grande. Os eleitores vão fazer o dever de casa, exigir, entre outras coisas, transparência e respeito como condição indispensável a qualquer candidatura. O voto chegará nas urnas soberano e democrático, implacável com quem se esconde da verdade, trai a confiança recebida e faz do jogo de poderes um lucrativo negócio político e eleitoral.
Eleitor não briga com a realidade. Sabe quem leva às ruas o exemplo que dá em casa – ou seja, quem faz da representação política e popular um exercício de dignidade e respeito com aquele que lhe concede esta legítima procuração.