Para o publico leitor que levantou questionamentos sobre a tendência de pulverização na disputa sucessória em Campo Grande, não há qualquer rejeição deste editorialista a esta possibilidade, já bem avançada. Muito pelo contrário. Acredito que quanto mais candidaturas houver, mais opções para a escolha de quem vota; quanto maior o número de candidatos, também é mais plural e democrática a disputa.
Afinal, as ideias e programas de todos os postulantes precisam ser confrontados pelos eleitores. E o eleitorado tem também a responsabilidade de fazer a acareação entre as candidaturas, medir o grau de compromisso de cada uma com a própria história, aferir se o empenho da palavra é honrado ou não, conferir o histórico individual de cada um ou cada uma que pedir o seu voto.
Tais cuidados são imprescindíveis para quem ama esta cidade e para quem deseja, verdadeiramente, vê-la bem tratada, atendida à altura de suas dimensões e aspirações sociais, econômicas, culturais, urbanas e políticas. Se o eleitorado em maioria não cumprir esta responsabilidade, a Capital, infelizmente, continuará a mercê do aventureirismo, do sorrisinho fácil, da oferta de ilusões.
Tudo isto é pura tapeação, algo que vem sendo feito e repetido de uns tempos para cá – e deu no que deu até hoje. Um olhar realista, e nem precisa ser tão detalhado, é capaz de identificar que a gestão da cidade mergulhou num processo corrosivo e sem fundo. Ontem eram apenas a buraqueira nas ruas e nos cofres da municipalidade. Hoje é pior.
A população vê diminuir dia-a-dia a sua autoestima em relação ao lugar aonde vive, tamanha a desilusão com a ausência de uma gestão que não demonstra competência e não tem a coragem de pensar e de decidir com a grandeza que está sob seus cuidados. É verdade que há realizações aqui e ali, mas sem a solidez, a profundidade e o alcance compatíveis com a urbe que está com quase um milhão de moradores.
Se for alinhar problemas não resolvidos, problemas não enfrentados, problemas criados e problemas que estão por vir, a cidade, em tese, teria que ser reinventada. Porque sem capacidade gerencial só um milagre restauraria, entre outras perdas, a credibilidade gerencial e financeira, a saúde do doente mal atendido, a nota mais alta de aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio, a satisfação do usuário do caótico transporte coletivo, enfim, tudo que se prometeu e não se cumpriu até aqui.
Por estas e outras é saudável o aceno de pulverização de candidaturas este ano. Entre tantos nomes, haverá postulantes com a qualificação medida e atestada, com predicados que irão diferenciá-los da mesmice que sobrará na concorrência. Caberá ao eleitor, então, diferenciar o trigo do joio, não misturando-os na mesma viciada e furada tigela que está posta à mesa nos últimos 10 anos.