Não há dúvida alguma que Luiz Inácio Lula da Silva entrou para a história como um dos presidentes mais emblemáticos e populares da história do Brasil. O problema, dele principalmente, é que agora seu papel na história começa a ser revisto por olhares críticos e muitos desapaixonados que, em grande número, começam a se convencer da responsabilidade direta desse homem, quando presidente, na proteção, formação ou participação num dos maiores escândalos com verba publica do País, o Petrolão.
Lula ainda não é réu, não está denunciado formalmente à Justiça, mas seu nome deixou de ser uma espécie de quase unanimidade mitificada por pessoas que, acima de outras análises, o viam ou o veem ainda como o magistral combatente da fome e da pobreza. Em outra proporção, mas equiparando-se na extensão da gravidade e na profundidade do prejuízo causado aos cofres e patrimônios públicos, em Mato Grosso do Sul outra majestade da política aos poucos vai tendo sua biografia questionada: o ex-governador, ex-prefeito e ex-deputado André Puccinelli.
Para órgãos de controle, fiscalização e repressão, sobretudo das forças-tarefas que realizaram as operações Lama Asfáltica, Fazendas de Lama, Aviões de Lama e Coffee Break, já não resta dúvida sobre a responsabilidade de Puccinelli no esquema de desvio de recursos públicos operado por alguns de seus melhores amigos e aliados da política e dos negócios. A Polícia Federal, por exemplo, constatou que dois dos acusados desses negócios sujos – daí o nome “lama” para as operações – são da cota das relações estreitas de Puccinelli: o empreiteiro João Amorim e o ex-deputado federal e ex-secretário de Obras Edson Giroto.
É muito difícil para a população sulmatogrossense – independente de gostar ou não de André Puccinelli, de ser seu aliado ou adversário – por na cabeça a certeza de que esse colecionador de mandatos pode perder a fama de empreendedor e de gestor competente que o lançou no rol dos mais celebrados mitos da política estadual. Mas é o que está acontecendo a cada batida da Polícia para prender amigos, assessores e aliados desse líder tão endeusado, todos sob a imputação de crimes praticados à farta justamente nos governos de Puccinelli.
Giroto, por exemplo, foi seu secretário e tocador de obras desde que comandou a Prefeitura de Campo Grande. E só não foi prefeito por indicação de Puccinelli porque o eleitorado campo-grandense estava delirando com a perspectiva de colocar na Prefeitura um locutor de voz de FM que teve a coragem de desafiar todo mundo e interromper uma hegemonia que já passava de duas décadas no comando da capital.
André Puccinelli, o tocador de obras, o trator, o homem que faz, não conseguiu, ao que parece, ficar só com essas marcas como ingresso na história política de Mato Grosso do Sul. Por enquanto resiste na condição de ser “apenas” um suspeito do Gaeco, força-tarefa criada para combater o crime organizado. Mas seus capítulos nessa história já sofrem a ameaça implacável da terrível mancha da suspeita. Assim, pau que bate em Chico é o mesmo de lá como cá: os mitos também se desmancham.
GERALDO SILVA