Muitos não têm conhecimento que o Partido Social Democrático tem quase 77 anos de vida, incluída neles uma interrupção forçada pelo satânico Ato Institucional número 02, o facão com o qual a ditadura militar extinguiu agremiações partidárias, fechou órgãos democráticos e cassou mandatos. E foi uma sigla que abrigou personalidades históricas e respeitáveis da política nacional, entre elas o saudoso Ulysses Guimarães, que liderou sua bancada na Câmara dos Deputados.
Com a redemocratização, o PSD retornou à cena e vem conseguindo andar. Contudo, perdeu muito da sua essência original por causa do pouco ou do raso compromisso de alguns de seus membros. E é esta deficiência que pode comprometer as possibilidades de crescimento e de crédito que o partido quer firmar.
O caso de Mato Grosso do Sul é denunciador desta situação. Aqui, o PSD passou a existir basicamente em função da família Trad. Três irmãos e um vereador do clã detêm mandatos nos poderes Legislativo (o Congresso Nacional e a Câmara de Vereadores) e Executivo (a Prefeitura de Campo Grande). A natural ambição de qualquer político convida a direção nacional da legenda a desejar que um de seus filiados dispute e vença eleições para os governos estaduais.
A priori, em Mato Grosso do Sul este projeto pessedista foi confiado ao senador Nelsinho Trad, que vem desenvolvendo um produtivo mandato congressual e preferiu cumpri-lo até o final. Abriu caminho para os outros irmãos, Fábio, que optou por buscar a reeleição de deputado federal, e o prefeito de Campo Grande, Marquinhos, que aceitou prazerosamente ser picado pela mosca azul.
Quer exercer seu legítimo direito de concorrer ao Governo. Não se discute. A questão é que o prefeito vai subir nos palanques, ocupar tevê e emissoras de rádio e carimbar as páginas dos jornais e espaços dos sites com sua pregação. Terá que mentir. Não será sincero. A menos que assuma o que fez e estará fazendo, a partir do momento que traiu a própria palavra ao chutar o cocho da parceria com o governador e o governo do Estado.
Não fosse o governador Reinaldo Azambuja (PSDB), o prefeito de Campo Grande não estaria colocando em sua conta os mais de R$ 2 bilhões de investimentos que o Estado garantiu para a Capital, com obras e serviços de inclusão social, infraestrutura, segurança pública, trânsito e transporte. Mas isso tudo não é tão impactante quanto o acordo tácito que a palavra dada entre cavalheiros lacrou o entendimento político-eleitoral entre PSDB e PSD para a sucessão estadual.
O prefeito agora aventura-se em busca da ambição de ser governador, nem que para isso atropele a si e aos outros. Põe o seu PSD de costas para o PSDB, depois de tanto usufruir. Não tem obrigação de cumprir o que assumiu e projetou. Assim como o governador não é obrigado a esperar de alguém o que esse alguém não tem a oferecer: a fidelidade à própria palavra.
Cocho serve para várias coisas: é prato para comida de porco, de gado e de gente. É recipiente para matar a sede dos animais. E é também algo a ser chutado por quem põe suas palavras ao sabor do vento.