Já faz parte do atual cotidiano de todos os brasileiros, do mais abastado ao mais desprovido de recursos, o ato de reclamar contra a conjuntura recessiva. Reclama tanto quem sofre prejuízos como quem tem seus lucros reduzidos.
O verbo reclamar está na ordem do dia especialmente de dirigentes políticos encarregados de resolver problemas que não resolvem, porque, além da incompetência, preferem transferir para terceiros a sua falta de comprometimento com o compromisso assumido de enfrentar e solucionar os desafios confiados pela sociedade. Foi assim, num exemplo recente, na gestão Alcides Bernal-Gilmar Olarte, que passaram os quatro anos de mandato escondendo-se nas desculpas e no pretexto de que a responsabilidade pelo caos era dos antecessores.
Felizmente, nem tudo está perdido. Há honrosas exceções, dirigentes que não viram reféns dessa mesmice e protagonizam atitudes capazes de conservar vivas as esperanças de quem ousa acreditar que ainda existem a política bem executada e os bons executores políticos.
O exemplo em Mato Grosso do Sul vem de cima, de sua mais alta autoridade institucional, o governador Reinaldo Azambuja. Em recente encontro com o presidente Michel Temer, ambos no centro de violentos turbilhões econômicos e governamentais, Azambuja sobrou em grandeza. Provou não haver necessidade de governar um País para ser estadista. Basta enxergar sua responsabilidade com o olhar universalista, que no caso associa Mato Grosso do Sul a problemas que afetam, específica e solidariamente, a maioria dos estados brasileiros, particularmente os produtores.
O governador poderia aproveitar a ocasião nada comum de uma conversa “tête a tetê” com o presidente para reforçar pleitos de interesse exclusivo de seu Estado. Porém, o paroquialismo individualista e o oportunismo estreito não fazem parte do proceder desse governante. Quando expôs os prejuízos de Mato Grosso do Sul com as perdas da Lei Kandir e as dívidas junto ao BNDES, Azambuja falou por todos os estados – e foi enfático ao sublinhar o apelo com o tom federativo, plural.
O estadista olha dessa forma. Não se fulaniza no imediatismo episódico de cenas politicamente apropriadas para usufruir incensos midiáticos. O estadista olha agindo, com atitude e desassombro, magistrado, porque pensa grande, pensa na conjuntura, no que se faz hoje para garantir amanhã. É assim que o Brasil precisa pensar para, enfim, desentalar-se do lugar-comum das suas aflições econômicas, sociais, éticas e políticas.
GERALDO SILVA