Campo Grande perdeu 528 médicos em dois anos, exatamente em 2017 e 2018, o primeiro biênio da administração de Marquinhos Trad (PSD). A informação é de alguém acima de qualquer suspeita sobre o que disse: o atual secretário municipal de saúde, José Mauro Filho.
Dos 1.628 profissionais disponíveis em 2016, sobraram cerca de 1,1 mil no início de 2019, um número muito aquém do mínimo necessário para cobrir a demanda. Tanto o secretário anterior, Marcelo Vilela, como o atual, além do próprio prefeito, levantam justificativas que devem ser consideradas, mas não aceitas passivamente como se fossem impedimentos definitivos e insuperáveis ao exercício de uma gestão qualificada do setor.
Mesmo com a rotatividade e problemas cíclicos que afetam o sistema, a política pública de saúde em Campo Grande ou não existe de fato e de direito ou não tem gestão. Porque faltam investimentos estruturais que vão desde a valorização trabalhista e salarial dos recursos humanos, concursos para responder à altura o tamanho e as necessidades das demandas, estrutura técnico-científica com equipamentos e rede física pertinentes e um modelo moderno, resolutivo e eficiente de gerenciamento.
Quando um médico pede para deixar o serviço público, das duas uma: não é ou não está preparado ou tem algum desencontro com as expectativas pelo tratamento de valor que lhe deve o poder público. É fácil constatar parte do que está ocorrendo nesse quadro de carências que se agravam com o desfalque de mais de 500 profissionais em dois anos: basta constatar o que acontece nas unidades de saúde com as procuras convencionais e os quadros excepcionais da dengue e das viroses oportunistas.
São postos superlotados. Filas intermináveis, funcionários, pacientes e acompanhantes à beira de um ataque de nervos. Falta de vagas, de medicamentos, de plantonistas. Demora, espera, adiamentos, choro, mal-entendidos, enfim, um ambiente de caos no qual os seres humanos são vítimas duas vezes: uma pela doença e outra pelo contratempo desumano que passam por não terem condição financeira para pagar um tratamento particular e assim não ser exposto ao sofrimento e à humilhação.
Portanto, na bem avaliada observação do secretário de Saúde, trata-se de uma lacuna abismal provocada por 528 profissionais no sistema. Porém, é preciso acrescentar que esta é mais uma das consequências da falta de visão ou do olhar curto e estreito de quem se preparou durante 20 anos para administrar a capital, assumiu a cadeira e só agora vem revelar, na prática, que ainda não conseguiu sair do curso primário. E quem paga por isso é o povo, de cujos bolsos sai o gordo salário do gestor.
GERALDO SILVA