É constrangedor, doloroso e muitas vezes ingrato a um articulista tecer comentários desairosos sobre o comportamento pessoal. O ideal seria defender, atacar ou simplesmente analisar ideias e decisões. Ocorre, entretanto, que ideias e decisões andam de mãos dadas com os princípios e deveriam caminhar assim com as atitudes. Só que não, quando é o caso de quem faz o contrário daquilo que prega.
Tantas vezes este semanário, e à semelhança de dezenas de outras publicações locais, ergueu o protagonismo de Marcos Marcelo Trad, o Marquinhos, como uma das mais gratas e promissoras lideranças da nova geração. Carreira triunfante, midiática, recheada de conquistas nas urnas, na vida social, enfim, alguém talhado para ascender aos postos de maior relevância na vida publica.
Infelizmente, para o conjunto da sociedade que muito esperava dele ou que a ele deu com seu voto um cheque em branco, tudo isso era apenas uma falsa ilusão. Ele não fez questão nenhuma de honrar aquela delegação legitimada pelas urnas, atirando-a pelo ralo de suas ambições sem limites.
Sem escrúpulos, sujou a si mesmo e manchou aquilo que deveria prezar como um de seus bens afetivos e morais mais caros: a história da família Trad. O que mais chama a atenção diante de tudo que agora se revela, não são apenas os escândalos em série, que vão das acusações de assédio sexual e estupro aos esquemas para desvios de verbas publicas, cuja guarda a ele fora confiada.
Além desses graves escorregões morais, outra incúria sobressai no histórico do hoje ex-prefeito: o verdadeiro desastre da sua passagem pela prefeitura. A herança que deixou para a sucessora é o caos financeiro e gerencial. A máquina publica em seus dias de poder era uma espécie de nau da insensatez, apinhada de comissionados que não tinham obrigação de ir trabalhar, enquanto o Município afundava na inadimplência.
Pobre Campo Grande, vitimada sem dó nem piedade por alguém que só se fez conhecido depois que recebeu do povo a principal caneta da cidade. Antes, era a fantasia do sucesso pago a peso de ouro. Agora, é a realidade implacável da vergonha, posando nas fotografias do Ministério Publico e da Polícia como alvo de operações de combate à corrupção e de caça aos corruptos.
Pobre desta Campo Grande que confiou, ao assinar um cheque em branco sem saber que seria vítima de um estelionato.