Independentemente de greve ou não dos trabalhadores do transporte coletivo, Campo Grande já está frente a frente com a vergonha – ou o caos, ou a absurdamente precária situação de um sistema que deveria servir de modelo exemplar para todas as capitais brasileiras. Infelizmente, o cenário é dos mais desoladores e atesta, sobretudo, a inércia de uma gestão pública que não sabe até hoje, em cinco anos, a que veio – e muito menos para onde vai.
Se as pouco mais de 500 pessoas que trabalham como funcionários das empresas do setor estão insatisfeitas, imaginem o humor daqueles mais de 700 mil campo-grandenses que noite e dia depositam seu suado salário nos cofres de quem vem lucrando há anos com a exploração desta concessão, que é uma verdadeira mina de ouro no asfalto. Nem precisa cavucar.
O gestor da Capital não leva em conta o quanto custa para cada cidadão ou cidadã bancar as viagens de ida e volta, de domingo a domingo, sentados ou em pé nos veículos que, em grande parte, não possuem ar condicionado ou já estão em idade de desuso, percorrendo itinerários que nem sempre suprem as demandas locais, muitas vezes espremidos como sardinhas enlatadas e sem pontos adequados para embarque e desembarque.
Aquele dinheirinho santo e sacrificado das massas assalariadas, dos estudantes e de outros segmentos que dependem de um ônibus para cumprir suas agendas de trabalho, estudos, lazer, esporte e atividades sociais, parece que não tem valor algum para aquele que deveria ser o cuidador-mor da cidade. Esta é a única explicação para os recorrentes atos de traição da palavra empenhada.
E que ninguém duvide se a alta frequência de pessoas nos postos de saúde pode ter, entre outros fatores, a irritação, o mal-estar e os impactos emocionais causados por quem sofre o aborrecimento cotidiano de depender do uso de um ônibus do transporte coletivo. É o castigo que paga a pessoa que enriquece os exploradores do sistema, cujas mazelas têm como responsável central um gestor que não planeja, que não fiscaliza a concessão que autorizou e que não pensa no custo-benefício como indicador de satisfação e bem-estar dos munícipes.
A cidade é Campo Grande. A gestão, porém, é pequena.