Não há como classificar o nível de conhecimentos ou o inteiro teor das identificações de cada representante do povo com aqueles a quem deve representar. Isto porque posições ambíguas ou a ausência delas (omissão) criam um véu de blindagem a encobrir as reais intenções de quem não tem a coragem de se expor como é, a mostrar o que pensa de verdade e assumir que nem sempre – ou sempre – trabalha esta representação segundo os seus próprios interesses e não o interesse público.
A Câmara Municipal de Campo Grande abriga democraticamente a oposição, a situação e o que flutuam entre uma e outra estação política. É ampla a maioria dos que fazem as vontades do Executivo, principalmente porque, além de não fiscalizá-lo, endossam e “legitimam” o desgoverno que há mais de sete anos vem judiando da cidade. Pois esta mesma e triste maioria é que faz das decisões da Câmara um atestado solene de fraqueza política e subserviência institucional, corroborando o caos na saúde e as demais obras de desgoverno que infelicitam a Capital.
Uma das mais recentes estripulias do Legislativo vem agredir não só as condições de planejamento para garantir uma expansão urbana saudável e moderna, ajustada às exigências contemporâneas que impõem garantias de convivência harmônica entre as pessoas, veículos e o meio ambiente, tendo no núcleo deste modelo as condições de mobilidade e acessibilidade. Tudo isso e nos demais aspectos, a já desfigurada Lei do Uso do Solo deve ou deveria ser o ponto de referência.
No entanto, os vereadores decidiram mudar – para pior – o projeto de lei que, em princípio, reordenaria o uso do solo na expansão urbana. Com a caneta afiada, e sabe-se lá com quais interesses, querem limitar a zona de expansão. Haveria, então, uma recomposição não somente de engenharia ou de adequação espacial, mas de reafirmação de interesse econômico e político.
Pois assim como já se fez antes, ajustando o Plano Diretor ao gosto das empreendedoras que disseminaram espigões no centro, carimbando a volúpia dos investimentos imobiliários como expansão urbana, agora é a mesma conceituação que se manifesta. Afinal, a cidade precisa continuar a crescer e a ter seus espaços ocupados – mas pra quê planejamento, pra quê ordenamento, pra quê participação da sociedade na decisão daquilo que vai impactar lhe diretamente?
Esta é a Câmara de Campo Grande. À espera de outubro, quando os eleitores vão apreciar e votar a Lei de Uso da Urna.